ciências e coisas da vida |A qualidade da água: A qualidade da água
Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Conversando com um amigo sobre qualidade da água para consumo, ele levantou a questão do sabor salgado das águas de Pains e adjacências. Realmente, para quem não está acostumado, é quase impossível matar a sede com aquela água. O que acontece é que a água pluvial acidificada acaba dissolvendo o carbonato de cálcio (e outros sais) dos maciços calcários, tornando-se quase salobra. O próprio processo de formação de cavernas e espeleotemas como as estalactites, estalagmites, helictites e outros se deve à solubilização do carbonato de cálcio pela água carregada com ácido carbônico, entre outros, e posterior deposição do carbonato em ambiente carregado de CO2. Em construções mais antigas, com caixas- d’água de alvenaria ou mesmo com infiltrações em lajes, é possível notar em muitos casos a formação de pequenas estalactites e estalagmites a partir da solubilização do cimento e posterior recristalização.
Em residências de locais com água muito salina a formação de crostas em chuveiros e encanamentos é constante. Isto torna o uso desta água em caldeiras muito perigoso, devido à formação das referidas crostas. A palatabilidade da água é dada pelos sais que ela contém, sendo que o sabor pode variar consideravelmente de região para região, e mesmo dentro de uma região. As chamadas águas ferruginosas são comuns aqui em Formiga, sendo encontradas em córregos próximos às várzeas, com boa aeração, o que permite a formação de óxido férrico anidro, o qual confere cor avermelhada aos sedimentos e sabor de ferrugem à água. Sem sais, a água é incolor, inodora e insípida.
Em termos de saúde pública, um dos problemas constantemente levantados quanto às águas com maior salinidade que o normal é a grande incidência de cálculos renais em pessoas que a consomem. A formação dos referidos cálculos não se deve apenas à água, mas também a fatores genéticos. Uma das soluções para tornar estas águas mais palatáveis é a construção de um pequeno destilador solar. Este se constitui em um reservatório retangular de cor escura para a água, com capacidade adequada para o consumo da família, sendo que o mesmo é tampado com uma placa de vidro em ângulo, o que faz com que a água ali contida evapore sob ação do sol e condense no vidro, sendo recolhida por uma canaleta e enviada a um outro reservatório. O consumo de água destilada também não é saudável porque todos precisam dos sais dissolvidos na água comum, logo, a água destilada pode provocar desequilíbrio eletrolítico no organismo. Uma alternativa é misturar uma parte de água salobra filtrada em cinco de água destilada, por exemplo. Em regiões com problemas na qualidade da água este método simples pode tornar a água apropriada para beber, inclusive isentando-a de larvas e outros organismos perniciosos. Sem dúvida é um método bem mais barato que o uso dos equipamentos de osmose reversa.
Para nós formiguenses, acostumados com fartura de água gostosa para beber e usar no cotidiano, salvos os problemas de abastecimento e eventuais sinistros, fica mais um exemplo da vida real sobre como o precioso líquido deve ser bem cuidado, pois é bem mais fácil preservar a qualidade dos nossos recursos hídricos do que ter que lançar mão dessa parafernália tecnológica para tornar a água própria para consumo. É muito grande nossa responsabilidade em preservar essa riqueza sem par para que nossos descendentes possam desfrutar dela.