Crônica: A comissão
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Para o cartunista Ziraldo, “homem público é o masculino de mulher pública”. E sempre há historinhas que servem para justificar a afirmativa do humorista.
Em um botequim da periferia, um maldoso, mas engraçado, comentário serviu como gozação em cima de um conhecido político que era vereador em Formiga.
Como o cara ficou muito, mas muito mesmo, zangado, a gente vai omitir o nome dele (vai que ele cisma de querer tirar satisfação...).
Profissional, tal político tinha muita dificuldade em preencher até ficha de crediário na lacuna reservada para a profissão. Afinal de contas, todos os rendimentos da família vinham de seu cargo. Ele não fazia nada além de ser “homem público”.
Certa vez, o Tribunal de Contas do Estado resolveu enviar uma comissão de fiscais para dar uma geral nas contas da Câmara Municipal. Com três dias de antecedência, chega um fax (naquela época não havia internet) anunciando que a cidade havia sido escolhida para receber tal comissão. O clima no Legislativo ficou tenso. Procuram-se papéis, arrumam-se gavetas, eram apenas 72 horas para deixar tudo nos trinques.
Acontece que nosso amigo político tinha viajado e ninguém falou com ele sobre a vinda da comissão de fiscais. Deu que, no dia previsto para a chegada, ele cisma de ficar a tarde inteira na sede do Legislativo. Por volta das três da tarde, pára em frente à Câmara um Opala preto chapa branca, com três senhores altos e de terno. Do vitrô, Simone Cardoso, que era eficiente secretária, vê os caras chegarem. De político, só nosso amigo estava presente. A funcionária avisa:
__A COMISSÃO chegou...
Distraído, o político olha o relógio (naquela época os bancos fechavam às cinco da tarde) e diz:
__Manda depositar na minha conta.