Crônica: Após as eleições
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Doutor Sócrates Bezerra de Menezes (até o nome é austero: Bezerra de Menezes: nome de escritor do passado. Nome de senador nordestino, imponente) era médico conceituado em toda região de Formiga.
Muito responsável, datilografava suas receitas para que não houvesse dúvidas sobre o medicamento e para que fosse garantida a saúde do paciente (eram vidas humanas em jogo).
Muito popular, foi convidado a ser candidato a prefeito por uma importante ala política de Formiga e acabou aceitando. Ficou empolgado. Almoçava, jantava e sonhava com a campanha.
Em um início de semana, ele recebeu uma paciente de Camacho (dizem que era parente do ex-prefeito Ninico), que fora levada pelo marido a seu consultório. A senhora estava, como se dizia, perrengue.
O problema parecia grave, mas na verdade era coisa pouca. Algumas injeções e ela aprumava.
Depois da consulta e de fazer um minucioso exame, Doutor Sócrates foi à sua Olivetti Linea 88 (uma máquina de escrever muito conservada da qual ele tinha muito ciúme), datilografou a receita e a entregou ao marido.
Uns quinze dias depois, o tal sujeito retorna ao consultório e, apavorado, relata como estava sua esposa:
__Ô Doutor, ela não miorô não. Tá até com as feição sem cor...
__Mas o senhor mandou aplicar as injeções direitinho?
__Uai, sô, ainda não...
__Mas, por que não? Cê tá doido?
__Uai, o senhor mandou aplicar a ampola após as ELEIÇÕES. Como ainda tá faltando tempo, eu fiquei com medo dela invergá mais. Por isso é que eu tô aqui.
O problema foi logo resolvido. Uma nova receita explicando que as injeções eram após as REFEIÇÕES foi emitida, a mulher melhorou, conseguiu votar e Doutor Sócrates foi eleito.