Crônica: As cambotas

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: As cambotas
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Quem não conhece o Gilson Vieira, o Gilson da Nova América? Pessoa divertida e estudiosa, Gilson é muito inteligente e nunca teve dificuldades de fazer amigos. Ajudou na fundação de “O Pergaminho” e já foi locutor de praticamente todas as rádios de Formiga.

Desde criança, Gilson já se destacava como pessoa comunicativa. Tinha seus amigos de escola, o Falcon, o Bodeus e o Flavinho Porto, como também contava com a simpatia dos amigos de seu pai, o famoso artista de teatro e fetejado comerciante Estácio Vieira.

Todo domingo, ele acordava por volta das sete e meia, tomava banho, tomava café, punha a bermudinha, meia três quartos branca e sapatinho de verniz. Passava Quina Petróleo no cabelo (que sua mãe, Dona Inês Barbosa, comprava do Bolivar Montesserrat) e ia para a missa das crianças, que era celebrada pelo padre Daniel na Matriz São Vicente Férrer.

Bem limpinho e cheiroso, Gilson saía de casa no domingo pela manhã, mas sempre voltava todo sujo e cheio de palha de capim. Era um mistério. O que acontecia era que, quando subia a Silviano Brandão, ele dava uma passadinha na casa do escrivão de Justiça, Licurgo Fonseca Viana, pai de seus amigos Rodrigo e Biel. Todo mundo muito gozador.  Lá, Gilson era sempre desafiado:

__Aposto que você não sabe dar cambota, provocava Licurgo.

Gilson vinha correndo e “ploc”, dava uma cambalhota em um pequeno canteiro de grama que existia no jardim.

__Duas cambotas você não dá conta...

E Gilson... “ploc”, “ploc”.

Por um bom tempo, Gilson dava suas cambalhotas. Depois, todo sujinho, ia para a missa do padre Daniel.