Crônica: Bife crocante
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Nos anos 70, havia uma animada república de formiguenses em Belo Horizonte. Em uma casa velha na Barroca, moravam o Sérgio Figueiredo (o Biju), o João Fufu, o Buru (o Robson do Pavão), o Gil Rocha e o Tatá, também conhecido por Wendel Lasmar.
Como o pessoal não estava para brincadeira – a maioria estudava e trabalhava – não dava para todo mundo ir todo final de semana para Formiga. Além de ser muito dispendioso, eles não gostavam de deixar a casa sozinha. Fizeram uma escala, onde, a cada sexta-feira, dois podiam ir ver suas famílias.
No acordo, os que viajavam eram obrigados a levar encomendas para os que ficavam, quase sempre coisas de comer. Era a mãe de um que fazia quitandas, a de outro que preparava um lombo, uma broinha de fubá...
Para ficar mais barato, eles voltavam para Belo Horizonte em um ônibus da Viação São José, que saía da rodoviária do Nicodemos às 11 horas da noite (o horário ficou famoso como Fantasminha).
Em um belo dia, ou melhor, em uma bela noite, Buru e João Fufu se preparavam para embarcar, quando lembraram que haviam se esquecido de passar na casa da dona Sinole, mãe do Biju. O ônibus já estava ligado, quando eles saíram correndo para buscar uma marmita com mexido que ela havia preparado.
Chegaram a Belo Horizonte por volta das duas da manhã. Em uma esquina, onde havia a construção de uma pequena mureta, João Fufu escorregou e deixou cair a marmita em cima de um monte de massa de reboque. Ela se abriu e o bife de lombo ficou lambrecado.
Mais que depressa, ele pegou a carne, bateu na calça, colocou no vasilhame e tampou. Chegando, Biju esperava ansioso. Pegou a marmita, pôs para esquentar e comeu tudo.
No outro dia, ele liga para sua mãe para agradecer, mas faz uma reclamação:
__A comida tava ótima, só a farinha do bife à milanesa que estava meio crocante.