Crônica: Caipira, Criminoso e Galinha
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Colocar apelidos é coisa comum em cidades do interior. Como todo mundo conhece todo mundo, é muito mais fácil (e mais divertido) chamar pela alcunha do que pelo nome próprio.
Em Formiga, têm apelidos dos mais diversos. Há uns que são a incorporação da profissão ao nome do sujeito. Tem o Jair Dentista, o Zé Maria Sapateiro, o Vicente Enfermeiro e o João Soldado. Apelido também pode ser marketing, é o caso de juntar o nome ao negócio. Há na cidade o Paschoal da Farmácia, o Seu Rubens da Drogaria, o Nêgo do Posto, o Marquinho da Funerária e o Dinho da Padaria.
Além do nome ao negócio, há também a união do nome ao nome do negócio. Exemplos são o Seu Paulo do Bazar Guri, Fernandinho da Galera, Zé Carlos da Retran, Rubinho da Mobilar, Paulinho da Fidalga. Se for para enumerar, haja papel.
Dentre tantos apelidos, os mais curiosos foram colocados nos filhos do Seu Zé do Caldas e da Dona Edwirges. Pais atenciosos, eles tiveram quatro rebentos: a respeitada psicóloga Lílian e três marmanjos: o Carlos Henrique (que quando criança era Caipirinha e depois que cresceu se transformou em Caipira), o Luiz Alberto (que virou o Criminoso) e o Antônio Marcos (o Galinha).
Proprietário da mais conceituada e eficiente oficina de consertos de televisores e aparelhos eletrodomésticos da região, a Casa do Rádio, seu Zé do Caldas colocou desde cedo os meninos no batente. A oficina foi crescendo, e cada um desenvolvendo com competência sua atividade. A cada dia, um novo funcionário.
Como sempre foram muito inteligentes e divertidos, os filhos do seu Zé nunca ligaram para os apelidos, que passaram a ser propaganda do negócio.
Uma vez, a oficina contratou um rapaz de Baiões para ficar tomando conta da oficina na hora do almoço. Já no primeiro dia o telefone tocou:
__Aí é da oficina do Caipira?
__Não, sô. Aqui todo mundo é da cidade. Da roça, só tem eu...
__E o Criminoso tá aí?
__Que criminoso o quê? Aqui o pessoal é honesto e de respeito.
__Então me chama o pai do Galinha...
__O pai do galinha deve estar é com sua mãe no galinheiro, disse o jovem funcionário batendo o telefone no gancho.