Crônica: Cautela
AC de Paula (de São Paulo)

Na verdade, na real, a paixão é passageira se o seu palácio de cristal tem alicerce de areia.
Não faça do seu problema a antessala do caos, use a pedra do poema para construir seu degrau.
Não seja omisso e passivo, mas pense antes de agir pra não sofrer sem motivo se o barraco cair.
Vá à luta, rasgue o verbo, solte as peias, as amarras, faça verso amor e flor, esqueça as rimas raras.
Nada na vida é eterno, mas viver é o melhor remédio, pra não morrer de tristeza, de catapora ou de tédio.
A magia de viver é muito mais poderosa, sei que nem tudo são flores e o mar não é cor de rosa.
Faça o que lhe der na telha, com coragem e vontade, cuidado com o que semeia pra não colher tempestade.
Semear não é preciso, diz a bula, a receita, porém, lançada a semente, há de ser feita a colheita.
Tem dia que é assim mesmo, a gente procura e não acha, a gente anda a esmo e na moldura não se encaixa.
Nem tudo é sempre perfeito, sina, fortuna e sorte, viver só tem um defeito, ninguém se livra da morte.
Estamos aqui de passagem, pensar demais é bobagem, melhor sorrir, cantar e aproveitar a viagem.
Caldo de galinha e cautela podem ser uma opção, a luz lá no final do túnel pode ser de um caminhão.