Crônica: Chafariz
Robledo Carlos (de Divinópolis)

De espanto, a vista tão bela que reluz
Invade a paz e silêncio que condiz
Da mais pura água que desce
Entre pesada pedra em detalhes, o chafariz
E sobre o templo tão belo, a pesada cruz
Ainda em solo virgem, ordena ao negro o capataz
Com tamanha força e estupidez
Maculou em sangue, a água em lágrimas de dor
Mesmo sob a chibata, dor e altivez
olhos hoje contemplam, a fonte profanada em sofrimento contumaz
Ouço o burburinho da água em busca de foz
De verde musgo em pedra que o tempo produz
Silêncio de dor e liberdade em espera
Atravessa o sol, respeitoso em rosto branco de luz
Desse que hoje venera, faço de mim a tua voz
Teu sofrimento de reconhecimento tardio
Sua dor e desesperança ainda me traz
Deste lindo paraíso que fizestes
Reconforta-me a tua força e a paz
E aos que não veem, cegos o escárnio
Junta-se as mãos na acolhida da água
Banham o rosto em refresco e graça
Para a história, fica tamanha beleza
Daquele que um dia nem a justiça lhe faça
De seu sofrimento, deixo-lhe minha vergonha perpétua