Crônica: Conhecendo o mar

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Conhecendo o mar
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Ronnie da Silva é diagramador do diário “O Pergaminho”. O rapaz é funcionário dos mais antigos, e sua carreira é de ascensão. Foi entregador, cobrador e digitador até chegar ao departamento de arte. O cara também foi até vocalista de uma famosa banda de forró (que já acabou).

Nativo das montanhas mineiras, o rapaz tinha como grande sonho conhecer o mar. No ano 2000, seu grupo de forró estava no auge, fazendo várias apresentações nos barzinhos da cidade. Sujeito controlado, juntou dinheiro para uma excursão a Guarapari, no Espírito Santo, e, de sobra, ainda deu pra comprar um celular novinho. 

A felicidade só não era maior do que a ansiedade pelo dia da ida. Malas prontas três dias antes, Ronnie resolveu procurar atividades pra ver se o tempo passava mais depressa. Juntou-se a um pessoal e foi jogar uma pelada na quadra da Asadef. Deu um baita azar, arrancou a tampa do dedão em um taco empenado.

No dia da viagem o dedão ainda estava machucado, e não deu para calçar o tênis. Enrolou um esparadrapo e foi.

Chegou a Guarapari e quis logo conhecer a Praia do Morro (é que mineiro não pode ficar sem morro nem em praia), que diziam ser legal. Camisa regata, tênis Bamba e meia três quartos no pé esquerdo e sandália Havaiana com esparadrapo na ponta do dedão no pé direito. O calção bem amarrado sustentava o celularzão.

Todo descontraído, Ronnie passa por uma viela onde parecia não haver ninguém, mas dois pivetes aparecem do nada. Alvo principal, o celular.  Um avançou no aparelho enquanto outro tacou uma pisada no dedão machucado. Sumiram como apareceram.

Sem graça, Ronnie foi para a praia, e quem perguntava pelo celular ele falava que tinha perdido. O dedão acabou inflamando, e o jovem só pôde calçar seu tênis Bamba depois de uma semana, quando já tinha voltado pra Formiga.