Crônica: Democracia
AC de Paula (de são Paulo)

Não tenho papas na língua, meu verso é faca de corte, não tenho grana no banco e para lhe ser bem franco eu nem tenho passaporte, eu não tenho o rabo preso eu sou um cara de sorte, a consciência sem peso, não tenho medo da morte!
Eu não tenho imunidades, respondo pelos meus atos, encaro a realidade e estou atento aos fatos, nada é como parece, e esse meu povo carece de olhar de olho aberto, pra ver a dura verdade que está aí tão perto!
É assim, o vento sopra, a fila anda, a banda toca, o tempo passa, o tédio cresce, a chuva cai e o sol brilha, o trem no trilho, alguém na trilha, a gente lembra, a gente esquece, o fogo queima, o amor aquece!
A gente espera, a gente cansa, a gente insiste na esperança, a chama apaga, a gente dança, a gente chega e vai embora, a gente canta, a gente chora, chora cavaco, chora viola, a gente sonha e quando acorda, quebrou-se o sonho fora de hora!
Não sei, não ouvi e nem vi, e assim se repete o mantra, na santa terra abençoada, onde ninguém sabe de nada, ou finge que nada vê, e a cara de pau é tanta!
O culpado é o sistema, a mídia e o tal do mercado, ninguém tem culpa nem pecado, e se tem, o povo perdoa, pois Deus não se mete nisso, não assume o compromisso e nem perde tempo à toa!
Ninguém encara os fatos pelo prisma da realidade, e vai puxando a sardinha para o calor da sua brasa, na tábua rasa da honestidade!
E assim segue a carruagem, é assim que a banda toca, é assim que a gente dança e vira dente da engrenagem, e o tatu não sai da toca e tem gente que não se toca, e a maracutaia avança!
Não sei se voto ou não voto, não sei se vou e não volto, se me acalmo ou me revolto ao ler e ouvir tanta besteira!
E nas tais redes sociais tem jurista de araque, tem candidato Mandrake, filósofos de almanaque, tem radicais extremados, escravos da ideologia berrando seus ideais, entocados nas trincheiras das paixões vãs e ardentes, brilho de sangue nos olhos, brilho da faca nos dentes, bendita democracia!