Crônica: Dente dando choque

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Dente dando choque
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Logo quando chegou a Formiga, o dentista Lalá montou consultório na Praça Ferreira Pires, em cima do Restaurante Solar 19. Foi à “Difusora-AM” para colocar um anúncio e de cara ganhou um grande amigo: o locutor Aureliano Landico Pinto, que prometeu-lhe arranjar uns clientes.

Passados uns dias, o radialista encontrou  com seu amigo Zé Corretor, aquele mesmo que jogava no Formiga Esporte Clube, que reclamou que estava com um dente dando choque. Era colocar a mão que doía.

__Uai Zé, tem um dentista novo na cidade que é muito bom. O cara é meu chegado e eu vou levar você lá.

Landico colocou Zé Corretor no carro e foi até o consultório de Lalá, que ficava na Praça Ferreira Pires, em cima do Restaurante Solar 19. Falaram com a secretária, que logo deu o recado ao dentista. Lalá apareceu.

__Ô doutor, bão?!, Eu tô aqui com o Zé, meu grande amigo, que está com dente dando choque. Será que você podia dar uma olhadinha?

__Posso sim. Esperem um pouco...

Lalá entrou em uma saleta, deu um telefonema e voltou.

__Venham comigo, chamou o dentista.

Lalá desceu a escada, atravessou a praça e chegou à porta do escritório da Cemig, que funcionava onde hoje é um lote vago ao lado do Hotel Colonial Palace. Na porta, já estava o chefe de seção, Major (outro grande gozador), filho do Sylvio Rocha, com capacete, luvas de eletricista e um alicate na mão.

Lalá  chega pra ele e fala:

__Ô Major, é este cara aqui que tá com dente dando choque. Dá nele uma guaribada pra nós.

Landico dava pulos de gargalhada. Sem graça, Zé viu que tinha sido vítima de uma brincadeira, mas acabou levando na esportiva. Lalá voltou ao consultório e fez-lhe uma obturação caprichada.

Até pouco tempo antes de falecer, Major se divertia contando a história.