Crônica: Do paliativo ao duradouro
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos-MG)

“Dê um peixe a um homem e o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar e o alimentará para a vida toda”. Conhecido provérbio chinês para aprendizado geral, bem conveniente para os dias atuais em vários setores. E surge como lição sobre a importância do aprendizado e da autonomia. Ensinamento que vai além do questionamento sobre o sustento, pois sugere um modelo de vida baseado na capacitação, na autossuficiência e no valor do conhecimento como ferramenta transformadora.
O ditado evidencia a limitação do assistencialismo imediato. Oferecer um peixe pode resolver uma necessidade ali, na hora, urgente, mas é uma solução temporária. Essa atitude reflete ações que, embora bem-intencionadas, perpetuam a dependência. Na prática, isso ocorre quando priorizamos soluções paliativas sem considerar as causas subjacentes – ou ocultas – das dificuldades enfrentadas.
O ato de “dar o peixe” é essencial em momentos de emergência, como em períodos críticos. Contudo, permanecer apenas nessa esfera cria um ciclo de dependência e limita o desenvolvimento do indivíduo ou da comunidade, deixando-os vulneráveis e sem poder de ação para enfrentar desafios futuros.
Ensinar a pescar, por outro lado, é um ato que empodera, enriquece, dá força qualificadora, cultiva a autoconfiança. Quando alguém aprende uma habilidade, uma técnica ou um ofício, adquire algo que supera a necessidade momentânea. Na realidade, ganha a capacidade de buscar soluções para suas próprias demandas. Essa abordagem estimula a independência, a criatividade e o desenvolvimento pessoal. É preciso que o indivíduo tenha consciência de suas qualidades, a envolver por atacado a conquista de direitos civis.
Na educação, por exemplo, o princípio de “ensinar a pescar” significa capacitar as pessoas com conhecimentos e ferramentas para poderem questionar e resolver problemas por conta própria. É o que transforma alunos em pensadores críticos e cidadãos conscientes.
Além do impacto pessoal, essa filosofia promove uma transformação social. Comunidades que dominam suas vidas e possuem conhecimento se fortalecem na resiliência. Elas conseguem enfrentar desafios com inovação, construir economias mais sustentáveis e evitar ciclos de pobreza e exclusão.
A frase, portanto, pode ser aplicada em diversos contextos: na educação, nas políticas públicas, no auxílio a populações carentes e até mesmo nas relações interpessoais. Exemplo dos mais felizes é o de um mentor, que ao invés de simplesmente resolver o problema de um aprendiz, ajuda-o a desenvolver habilidades que serão úteis para o resto de sua vida. Noutro vértice, um bom professor não entrega a solução pronta, mas ensina o aluno a pensar, a questionar e a buscar respostas por si mesmo, porque sabe que a maior lição não é resolver um problema de hoje, e sim preparar para enfrentar desafios permanentes.
Vivemos em um mundo que frequentemente valoriza resultados imediatos em detrimento de soluções duradouras. Entretanto, o verdadeiro poder transformador reside em ensinar, capacitar e inspirar. E o homem se dá por inteiro. Dar o peixe pode aliviar a fome de hoje, mas ensinar a pescar é construir um caminho para a liberdade, a dignidade e o crescimento contínuo.
O ditado não é apenas uma lição prática, mas um chamado para repensarmos nossas ações e buscarmos um impacto mais profundo e duradouro. Exemplo disso são as ajudas governamentais, que quando mal utilizadas representam uma tentativa de assistência social. Em vez de promover autonomia, pode criar dependência. E apesar de serem essenciais para pessoas em situação de vulnerabilidade imediata – a pobreza em geral–, a ausência de políticas complementares mais consistentes, como capacitação profissional e geração de empregos, transforma essa ajuda em um remédio que não cura. Atenua um mal sem efeito terapêutico, longe de ser uma ação reparadora. E mais: não resolve a raiz do problema, perpetuando a pobreza e limitando o crescimento pessoal e coletivo, numa luta incessante e cruel entre o paliativo e o duradouro, reforçando ainda mais o ciclo de pobreza.
A ajuda é necessária, mas quando vira muleta permanente, mais atrapalha do que ajuda. Os ‘vales tudo’ do governo aliviam por um dia, mas não mudam necessariamente uma vida. É preciso repensar e medir o assistencialismo, a fim de evitar danos colaterais de grandes proporções.