Crônica: Fernandíííííínho...
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Fernandinho é filho de um dos mais importantes artistas gráficos de Minas Gerais: o Fernando Gomes. Ao lado da Nininha, eles formam o trio de ouro da Gráfica e Tipografia Carlos Gomes.
Atleticano roxo, Fernandinho é um sujeito boa praça, muito inteligente e bom de papo. Sempre bem informado sobre o time do Galo, é o primeiro a dar a notícia de alguma contratação e a fazer prognósticos sobre jogos.
Trabalhador exemplar, o jovem pega no batente às quatro e meia da matina. Entra para a gráfica (deixa a porta de entrada pela metade) e começa na faxina. Organiza os tipos utilizados no dia anterior, corta papel, embala os serviços a serem entregues e, quando o pessoal chega, lá pelas oito e meia, já está tudo nos trinques.
Como começa cedo, Fernandinho facilita a vida dos agentes funerários, que, depois dos serviços da madrugada, precisam que os convites de enterro sejam impressos. Os convites são panfletos tradicionais em Formiga, neles vão os nomes dos familiares, horário do sepultamento, de onde ele (o enterro) sai e para onde vai. Morre alguém, e as lojas expõem os convites nas fachadas.
Certa vez, o Valico, que trabalhava na Funerária do Fernando do Manuelito, quis saber de Fernandinho se ele não tinha medo de ficar sozinho na gráfica de madrugada. O rapaz disse que não e que já tinha acostumado. Valico brincou: “É, mas é bão ocê ficar esperto...”
Passados uns três dias, Valico atendeu a um funeral de uma senhora que tinha falecido no Engenho de Serra e, lá pelas cinco, ainda com o dia escuro, foi levar os dados para que o convite fosse impresso. Passou com jeitinho por debaixo da porta, passou pelo balcão e viu Fernandinho no fundo da gráfica. Escondido atrás de uma off-set ele soltou a sua voz macabra:
__Fernandíííííínho...!!!
O pobre rapaz levou um susto tão grande que derrubou um balde d’água com rodo e tudo em cima de um monte de blocos de notas fiscais do Bazar Guri que estavam prontos. Saiu tropicando em fios e latas de tinta. Quando viu que era brincadeira do Valico, ele partiu em disparada para dar um cascudo, só que o agente funerário foi mais esperto, deixou o papel do convite em cima do balcão e, como se diz no interior, cascou no cerrado.