Crônica: Hospital da Baleia
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

O prefeito de Formiga era Ninico Resende e um de seus fiéis funcionários era o Luiz Pintadinho. Coordenador do relógio de ponto, Pintadinho ficava sempre de olho se tinha gente chegando atrasado ou se havia alguém batendo cartão para outro.
Pessoa muito boa, servidor exemplar e correligionário de confiança, Luiz Pintadinho era o que se podia chamar de Coringa.
Era manhã de uma segunda-feira e Ninico abre a porta de casa para ir trabalhar. Sentado na calçada, um casal com uma criança nos braços pede a ele que disponibilize um veículo da Prefeitura para levá-los ao Hospital da Baleia, em Belo Horizonte, porque havia consulta marcada e eles não tinham dinheiro para a viagem.
Na mesma hora, Ninico ligou para a Prefeitura e mandou que Pintadinho providenciasse o carro. Não deu nem meia hora e o casal já estava viajando.
Assim que o carro saiu, era uma Kombi preta, o servidor viu que uma sacola com fraudas tinha ficado no pátio do Executivo.
__Ô Luiz, já que a gente tá fazendo um favor, vamos fazer direito, disse Ninico. Vá à rodoviária, pegue um ônibus e leve a sacola até a família, no Hospital da Baleia.
Tudo certo. Chegando a Belo Horizonte, Pintadinho desceu do ônibus e logo foi pegando um táxi (naquela época, todos eram amarelos). Chegou ao Hospital da Baleia e falou pro motorita:
__Fique me esperando que eu vou só entregar esta sacola e você me leva de volta para a rodoviária. Lá eu pago a corrida toda.
O motorista ficou cabreiro, mas esperou. Num instante Luiz voltou. Só que confundiu e entrou no táxi errado.
__Pode tocar pra rodoviária.
Chegando ao Terminal, Luiz pede a conta. O carreto ficou em Cr$16 mil. Ele fez as contas. Ida e volta ficavam em Cr$32 mil. Pagou com Cr$35 mil.
__O troco é gorjeta, disse ao motorista, que quase morreu de satisfação.
Quando Luiz Pintadinho desceu do carro, deu de cara com o motorista que o tinha levado. O cara até espumava de tanta raiva e queria briga.
Depois de explicações, tudo foi resolvido. Pintadinho acabou tendo de pagar a corrida para não apanhar.