Crônica: Loja de discos
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Sandrinho Figueiredo e Juninho da Xulé (Miguel Rivera Peres Júnior) sempre foram empreendedores. Juninho era proprietário de uma conceituada boutique, a Xulé, e Sandrinho, do mais importante estabelecimento cultural da história de Formiga, o Carlito’s Bar.
Em uma sexta-feira, no início dos anos 90, o Carlito’s teve uma noitada movimentadíssima. Sucesso absoluto. Como era de costume, Sandrinho e Juninho ficaram até mais tarde (eles tinham o hábito de matar o restinho das doses das garrafas da noite, ficava mais barato).
Papo vem, papo vai, uma pessoa (a última do bar) que se encontrava em uma mesa ao lado do balcão comentou com os dois o quanto o Pedrinho da Song’s (hoje da Formúsica) estava evoluindo nos negócios. De dono de uma simples loja de LPs e fitas, ele estava se tornando um grande empresário do ramo de instrumentos musicais. Vender discos passou a ser bico. Conjuntos e bandas até do interior de São Paulo não compravam (como não compram até hoje) uma guitarra ou um pandeiro sem fazer um orçamento com Pedrinho.
Já eram quase cinco da matina, quando Sandrinho e Juninho tiveram a idéia: montar uma loja de discos para pegar o mercado que a Songs estava deixando. Pensaram em tudo. Sandrinho mantinha uma poupança no Bamerindus e Juninho tinha feito boas vendas na semana. Dava para começar o novo ramo.
Passo seguinte: arrumar um ponto no centro da cidade. Pensaram em todos os cômodos fechados, mas nada entusiasmava. Era preciso alguma coisa perto da Xulé, que ficava onde hoje funciona a Agência de Correios Rivera, na Barão de Piumhi, e perto do Carlito’s, que era em frente ao antigo Peg-Lev, também na Barão de Piumhi.
Eles então se lembraram da garagem do médico Doutor Antônio Chagas. Ela era em frente à Xulé e perto do Carlito’s, lugar ideal. No sábado bem cedinho, lá estavam os dois (ainda cheirando a restilhos de garrafa) marcando ponto. Deu oito e meia e nada de a porta se abrir (Doutor Antônio gostava de ficar em um alpendre para ver o movimento), deu nove, nove e meia e nada. Por volta das 10h15, lá aparece o proprietário da garagem.
Sandrinho e Juninho pedem pra falar. O médico mandou eles acabarem de chegar. Sentaram, falaram, explicaram e mostraram que o negócio não tinha dúvidas. Quando acharam que estava tudo certo, o médico fez aquela pergunta que matou:
__E onde é que eu vou guardar o carro?
Sandrinho e Juninho não souberam responder e a idéia da loja de discos acabou ali.