Crônica: Ninjas Tropicais
AC de Paula (de São Paulo)

Até quando vamos querer tapar o sol da realidade com a peneira das doces ilusões? Nada é o que parece e o que parece não é o que tenta parecer, e a gente segue fingindo que acredita que a nave tem piloto, e o tempo esfarrapado e roto, tal e qual a nossa esperança de que um dia a coisa mude, não se estoca no aquário, nem nas ruas alagadas pelas lágrimas do povo, não se esconde no armário e nem no fundo do açude.
Quem da mina tem o mapa nem lê do livro a capa quanto mais o conteúdo, e o vento nos sopra na cara a fumaça das queimadas que dizem que nunca houve, e as motosserras sangram as artérias da floresta sem se importar com os apelos do pulmão do mundo.
Até quando, até quando, quem me pode responder, assim num piscar de olhos essas notícias serão corriqueiras e tidas como normais, e nas mídias sociais os gurus de quase tudo, que ensinam, fazem, e acontecem, os experts de plantão, influenciadores de fracos e destemidos, em nome dos desvalidos e das minorias fragilizadas, vão continuar a distribuir ilusões.
Muito barulho por nada, vãs promessas vão proliferando, e tem muita gente falando do que só ouviu falar, no ó da periferia a realidade dá as caras e do outro lado da ponte o buraco é mais embaixo. E por isso tem gente que até acha que tudo já se perdeu, na hora H do dia D do ano de não sei quando.
No esquisito das quebradas vidas pretas importam, vidas amarelas importam, vidas brancas importam, e não importa a cor do discurso, as diferenças sempre existirão, mas é preciso respeito já chega de preconceito e branqueamento geral.
É preciso bancar o herói e até fingir que não dói quando se dá com a cara on the rocks. Chega de ouvir gente boa sempre bem-intencionada falar das agruras das comunidades, saboreando petiscos e alegrias com os cotovelos apoiados nas varandas de luxuosos apartamentos frente ao mar, isso não vai resolver nenhum problema.
Tem muita palha e pouco fogo é preciso jogar o jogo e quem dá as cartas é sempre o dono da banca, quem pode mais, não chora nem um pouco, manda quem tem a grana, e obedece quem dela precisa. Mas o povo segue em frente, sorte, azar, ou destino, e dança no fio da navalha do mistério de viver, feito samurais destemidos somos ninjas tropicais.