Crônica: O avião

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O avião
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Há algum tempo, Aureliano Landico Pinto, o homem da Latinha, resolveu fazer uma visita a um certo sobrinho residente em Curitiba, no Paraná. Com ele, foram seus dois filhos mais velhos: o Serginho e o Flavinho.

Malas devidamente preparadas, lá foram eles com destino a Belo Horizonte, onde deixaram o carro, e de lá seguiram de avião até a capital paranaense.

No destino, muita festa, passeios, cervejada... Toda noite, o grande radialista formiguense ia com seus chegados ao bairro gastronômico Santa Felicidade e pagava a dolorosa. Muito requisitado profissionalmente, Landico tinha acabado de apresentar duas festas agropecuárias na região e, com bolso cheio, dava pra fazer uma gracinha para os parentes.

Certa noite, o sobrinho de Landico chamou alguns companheiros para conhecer os ilustres parentes mineiros. Eram uns 30 amigos do peito loucos para conhecer o radialista. 

Cerveja, vodka, whisk, tira-gosto, couvert artístico, tudo ficou para o último da mesa pagar. E quem era ele? Landico, aquele que há pouco tinha divertido todo mundo. Valor da conta: quase tudo que o radialista tinha no bolso. Foi terrível.

No outro dia bem cedo, Landico acordou com uma ressaca moral das piores. Chamou os meninos e combinou que iriam embora no mesmo dia, porque a verba só dava para as passagens. Inventou uma desculpa das mais esfarrapadas e pegou o vôo de volta.

Na metade da viagem, o comandante do avião informa que seria necessária uma certa “parada técnica” no Rio de Janeiro. Não deu detalhes nem o tempo que duraria. Desceram do avião e foram levados a um reservado da companhia e, como era hora de almoço, passou-se a servir os mais variados pratos e aperitivos. Landico deu uma piscadinha para os meninos e explicou:

__Guenta aí, gente. Agora mesmo a gente tá em BH. A grana acabou.

Sentados em mesa de canto, o trio formiguense era a todo momento abordado pelo garçom:

__Os senhores desejam alguma coisa? Temos almoço, carnes, massas...

__Não, não. Os meninos ficam enjoados no avião e eu estou de regime.

Passa um pouco e volta o garçom:

__Uma água, um cafezinho, um refrigerante...

__Não, não. Se precisar, a gente pede.

O tempo foi passando e nada de o avião decolar. Deu meio-dia, deu uma hora, duas horas, três, quatro... e nada...

Serginho e Flavinho já estavam até azuis de fome. Já eram sete da noite, quando a aeromoça avisa que o vôo seguiria. Todo mundo sai em fila e Landico e seus filhos notam que ninguém tinha de pagar nada, era tudo por conta da empresa. Os meninos quiseram matar o pai, que só se salvou porque eles lembraram que era pecado.

Mortos de fome, chegaram a Belo Horizonte e vieram direto para Formiga. Chegaram às duas da matina. O único lugar aberto era o Bar do Preto, que ficava em cima da Lanchonete Asa Branca, na Getúlio Vargas. Comeram dois revirados com ovo cada um. De manhã cedinho, Serginho foi lá pagar a conta.