Crônica: O catálogo

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O catálogo
Manoel Gandra é poeta e jornalista




O ano era 1973 e o prefeito de Formiga era Lufrido Nascimento de Oliveira. O motorista do Gabinete era o famoso radialista Aureliano Pinto (Landico, o homem da latinha).

Em uma segunda-feira de março, Landico teria de levar o prefeito para uma importante reunião na Assembléia Legislativa. Horário previsto para a saída: 5h45.

Landico levantou cedo, deu uma passadinha na Pastelaria Glória e lá encontrou o Fernando do Manuelito (Fernando da Funerária). Conversa vai, conversa vem, Fernando conta que estava indo para a rodoviária pegar o ônibus do Nicodemos para também ir a Belo Horizonte.

__Ô Fernando, eu e o prefeito vamos sozinhos. O Lufrido gosta muito de você e eu acho que ele faria questão de dar carona. Vamos com a gente...!

Passam os dois na casa de Lufrido e foram os três para BH. A viagem, feita em um Aero-Willis preto e velho, foi uma alegria total. Sempre brincalhão, Landico não deixava passar nada. Uma viagem muito agradável.

Chegando à capital, Landico parou em frente à Assembléia, para que lá Lufrido resolvesse assuntos de interesse do Município. Ele e Fernando ficaram esperando no carro quando um guarda de trânsito chegou e pediu que o veículo fosse retirado.

__Ô seu guarda, o senhor não está vendo que este é um carro oficial do gabinete do prefeito de Formiga...?

__Não sei onde fica nem nunca ouvi falar. Não quero nem saber, podem ir tirando o carro.

__Olha aqui, seu guarda, se você não sabe, eu sou o Landico da “Difusora” e este aqui é o Fernando da Funerária...

Landico ensaiava uma discussão, quando Lufrido chegou e pôs um fim na história. Entraram no carro e foi só gozação por cima de Landico. O locutor ficou sem graça e não disse mais nada.

Pararam para almoçar e Fernando e Lufrido não podiam nem olhar um para o outro que já caíam na gargalhada. De cara fechada, Landico entra no restaurante e vai para o banheiro, enquanto o prefeito e o agente funerário procuram uma mesa aconchegante.

Para que o radialista não ficasse mais sem graça ainda, os dois combinam de não tocar mais no assunto.

Depois de ir ao banheiro, Landico vai à mesa, senta-se e chama o garçom:

__Por favor, meu senhor, poderia me trazer o CATÁLOGO, disse Landico, querendo se referir ao cardápio.

__É ligação interurbana ou local?, perguntou o garçom.

Fernando e Lufrido não agüentaram e quase caíram das cadeiras de tanto rir. Com raiva, Landico saiu e foi procurar outra mesa.