Crônica: O cavaleiro
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Esta quem enviou foi o experiente guarda-livros e vilense José Alencar Silva. Para quem não sabe, Zé Alencar é o quarto filho de uma família de dez irmãos. Eles são filhos do pecuarista Silvino Pereira e Dona Déia Cardoso, que vieram da comunidade rural de Paneleiros para a cidade e aqui conseguiram dar educação de primeiríssima qualidade para cada um dos rebentos.
Os dois filhos caçulas de Seu Silvino e Dona Déia são o estudante de direito Luciano e o advogado Ricardo Silva, que hoje é o competente e festejado defensor público da Comarca de Iguatama.
Conforme contou Zé, Luciano e Ricardo foram crianças exemplares. Muito religiosos, não deixavam de comungar um só domingo e nunca faltavam à missa.
Certa vez, os meninos receberam uma gabaritada incumbência. Eram férias de julho e haveria festa de São Geraldo em Paneleiros. Estava sendo preparada uma quermesse e Dona Déia foi convocada a dar uma prenda pro leilão. Só que ela tinha visitas e não poderia ir.
Para não fazer desfeita, Dona Déia assou um frango, que foi colocado em uma bandeja de papelão, rodeada de pães-de-queijo e coberta com papel celofane vermelho comprado na Papelaria do Zé Branco. Chamou Ricardo e Luciano e mandou que eles levassem a prenda a cavalos.
Já tinha dado três das tarde quando os meninos (Ricardo tinha 13 anos e Luciano, 9) saíram de Formiga. Às seis horas, quando os dois já estavam perto de Rodrigues - uns três quilômetros antes -, fechou um temporal. Ventava muito e não havia dúvidas: ia chover.
Como tinha tomado duas coca-colas antes de sair de Formiga (condição que teria imposto para cumprir a tarefa), Ricardo começou a ficar com muita vontade de verter água. A coisa foi apertando, mas a viagem estava atrasada e ele foi segurando. Quando não agüentava mais, Ricardo olha pra cima e vê uma nuvem carregada. Foi então que ele falou com Luciano:
__Vou fazer é na roupa mesmo. Vai chover e o arreio vai molhar mesmo. Ninguém vai notar.
E fez.
Só que Ricardo deu azar. As nuvens se dispersaram, o céu se estrelou e quando eles chegaram à quermesse, que estava toda iluminada, não houve quem não visse a façanha. Ricardo não tinha onde pôr a cara. No outro dia bem cedo, Luciano saiu antes e veio para Formiga contar a história para a família inteira.