Crônica: O doce da Dona Maruca
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Existem coincidências que ninguém acredita ser verdade. Mas que elas acontecem, acontecem.
Havia no Bairro Chapada uma famosa doceira conhecida como Dona Maruca. Seus quitutes eram apreciados e quem provava seus doces não aceitava enlatados ou iguarias de outras cidades.
No final dos anos 70, o psicólogo/professor/mestre e diretor da Faculdade de Ciências da Saúde (Facisa), Georges Khouri, namorava a sua querida/amiga/companheira e hoje esposa Maria Helena Costa.
Ele tinha acabado de se formar pela UFMG (um dos melhores alunos da classe) e o sonho era se casar e procurar vida nova. Era um sábado à noite, estavam Georges e Maria Helena em Belo Horizonte fazendo planos e organizando as coisas para marcar o casamento. Depois de percorrerem lojas e de fazerem orçamentos, resolveram ir a um bom restaurante fechar o dia com “chave de ouro”, como dizia Khouri.
Escolheram o mais aconchegante restaurante que havia. Era um sobrado no alto da Avenida Afonso Pena, que servia peixes e vinhos. Sentaram-se e pediram o cardápio. Escolheram o prato pela coluna da direita, o mais caro. Salmão grelhado com alcaparras e arroz com molho branco. Coisa finíssima. Tudo à luz de vela.
__E para beber...?, quis saber o garçom.
O melhor branco seco da casa. Um vinho francês na temperatura ideal (o dobro do preço da comida). Foi uma noite agradabilíssima.
Lá pelas tantas (os pratos já tinham sido rapados), muito educadamente chega o garçom à mesa:
__E de sobremesa...?
Já bem satisfeita, Maria Helena brinca com Georges:
__Só se tiver doce de leite da Dona Maruca.
Sem fazer comentários, o garçom sai e volta com um pratinho cheinho de doce de leite da Dona Maruca. É que ele era formiguense do Bairro Ouro Negro, pertinho da Chapada. Todo mês ele comprava o doce da famosa confeiteira e revendia ao restaurante.