Crônica: O ladrão e a geladeira
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Formiga (Lagoa), ele é brilhante aluno do curso de educação física da Fuom.
Jovem, Gustavo está sempre nas noitadas (ele garante que no outro dia, depois de muita malhação, fica “zero bala”). Filho de Dona Rosane Goulart, ele sempre dava preocupação aos familiares quando tinha a mania de chegar amanhecendo o dia “dos embalos de sábado à noite” (ele afirma que a fase já passou).
Há cerca de dois anos, era um sábado, Gustavo se preparou o dia inteiro para o Axé Lagoa, uma festa que acontecia nas dependências do Country e que movimentava a moçada. Pronto pro “crime”, vestiu sua camisa amarela com detalhes azuis, a preferida, encheu um cantil (daqueles envoltos em couro) de Natu Nobilis, passou a mão num coité e foi pra Lagoa.
Naquele mesmo dia, a coitada de sua mãe tinha passado a tarde inteira arrumando a casa. Quando já era quase noite, ela desligou a geladeira da tomada e foi descansar. No domingo bem cedo, com a geladeira descongelada, seria mais fácil limpá-la.
Enquanto isso, na Lagoa, Gustavo era só Ivete Sangalo, Araketu e Harmonia do Samba. Foi um festão. Lá pelas tantas, o colunista chama a namorada para ir embora, porque, segundo ele, já tinha “chapado o melão”.
Gustavo volta pra casa e não consegue nem ir para a cama. Capotou no sofá mesmo, bem em frente à porta da sala para a cozinha. Dormiu o que era para ser um sono profundo. Foi só colocar a cabeça no braço do sofá que começou o barulhão: “Brummm..., patáco..., patáco..., brummm”.
Apavorado e morrendo de medo, Gustavo saiu correndo e foi pro quarto de sua mãe:
__Entre aí, mãe, entre aí que tem ladrão em casa, disse o colunista trancando Dona Rosane na suíte.
__Que é isto Gustavo, cê tá doido?
__Pode deixar mãe, que eu vou chamar a polícia. O vagabundo tá na cozinha quebrando os vidros da cristaleira...
Gustavo fecha a porta do quarto por dentro e chama o 190. Menos de 15 minutos depois, chega uma viatura com três policiais fortemente armados. Eles entraram, vasculharam tudo: foram à horta, olharam sobre o muro do vizinho e nada.
__Caso note alguma coisa suspeita, é só ligar, disseram os policiais.
Mais tranqüilo, Gustavo abriu a porta da suíte para deixar sua mãe sair. De chinelo na mão, ela não perdoou o rapaz. É que o barulho que ele ouvia na cozinha era de pedaços de gelo caindo do congelador no chão da geladeira.
Gustavo garante que foi a última vez que houve chinelada em casa.