Crônica: O sapecado

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: O sapecado




Repartição pública sempre foi um local repleto de gozadores. Para que o estresse demore um pouco a infernizar a vida dos funcionários, brincadeiras e chacotas têm de fazer parte do cotidiano, senão o cara fica doido.

Se funcionário público é sinônimo de brincadeira, roda de político é igual roda de criança. Se alguém comete uma gafe, por anos e anos ela ficará marcada e, toda vez que tiver jeito, o pobre coitado será lembrado.

1978. O então prefeito Ninico Resende estava reunido em seu gabinete com quatro dos mais importantes, competentes e sérios membros que a Câmara Municipal de Formiga já teve: o Jucão, o Lico Fernandes, o Ael Teodoro e o Carlos Eufrásio de Carvalho (Zigão). Perto do meio-dia, pouca gente na Prefeitura, chega um tal de Doutor Rafael Pereira, engenheiro da Cohab, que se preparava para construir as casas populares do Bairro Cidade Nova.

Doutor Rafael era ruivo, de cabelos longos, bem vermelhos, e pele pintada pela sarda. Media quase dois metros de altura, era magro e vestia um bem cortado terno branco.

Ele chegou à recepção (o gabinete de Ninico era onde é hoje a Procuradoria) e teve de bater na mesa porque a secretária tinha saído pra almoçar.

__Ô Jucão, faça um favor. Vai lá  e olha quem é pra nós, pediu Ninico.

Jucão saiu e voltou falando baixinho:

__É o homem da Cohab, pode mandar entrar?

__Peraí Jucão, disse Ninico ajeitando os papéis na mesa. E como é que ele é?

Jucão colocou as duas mãos na mesa e abaixou-se para explicar:

__Uai Ninico, ele é um sujeito meio SAPECADO.

Ninguém entendeu nada. Quando o Doutor Rafael entrou na sala, Zigão olhou para ele e correu para o banheiro quase caindo de tanto rir. Lico Fernandes e Ael tiveram de sair para a sala ao lado para não dar gargalhadas em frente ao pobre engenheiro.