Crônica: O telefonema
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

É coisa nova montar equipe de transição em prefeituras de Minas Gerais. Antigamente, quando um prefeito assumia, ele chegava com seu secretariado e só ficava sabendo de como as coisas funcionavam no dia da posse.
Contam as más línguas que no comecinho de 1977, quando Ninico Resende assumiu a Prefeitura, tanto ele quanto seu vice, Eduardo Brás, demoraram um pouco a conhecer todo mundo.
Certa vez, Eduardo, que também era o procurador municipal, esqueceu dois quilos de alcatra que tinha comprado no Açougue Modelo em cima de sua mesa. Era uma sexta-feira à tarde e como a Prefeitura só voltaria a abrir na segunda, ele ficou preocupado com a possibilidade de a carne apodrecer.
Ao chegar à sua casa, a primeira coisa que fez foi telefonar para a Prefeitura e tentar falar com o Geraldinho Nunes, que era diretor do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) e tinha ficado esperando para ter uma reunião com Ninico.
Eduardo ligou para pedir que Geraldinho pegasse a carne, mas uma faxineira foi quem atendeu.
__Eu queria falar com o Geraldinho do Saae...
__Não tem ninguém aqui não, disse a mulher batendo o telefone.
Eduardo liga novamente:
__Olhe, eu preciso muito falar com o Geraldinho...
__Eu já falei que não tem ninguém aqui, gritou a mulher batendo de novo o aparelho.
Nervoso, o vice-prefeito telefona pela terceira vez:
__Não desligue não que isso é falta de educação. A senhora sabe com quem está falando?
__Não.
__Aqui é o Doutor Eduardo Brás Neto Almeida, que é o vice-prefeito e o procurador municipal.
__E o senhor sabe com quem está falando?, indagou a faxineira.
__Não.
__Ainda bem!, disse a mulher, que voltou a desligar o telefone.
Eduardo teve de ir à Prefeitura, mas a carne já tinha sumido.