Crônica: Oceanos
Robledo Carlos (de Divinópolis)

É preto em cor quando parto, nem sinto a
beleza do mar que me envolve em balanço.
Vi tantos juntos a mim sem surpresa! Mas e agora, onde estão tantos pretos envoltos? O cheiro é de mar, o cheiro é de dor, a revolta funde em meus ossos.
Exalo entre meus punhos, meu silêncio e minhas lágrimas.
Onde ficará a minha vida? Alguém, a lua, meus orixás cuidem de minha mãe velha, que cantava ao luar para os rebentos, essa gente que um dia me pertenceu.
Dois olhos negros nesse mar infinito de azul, assustada, amedrontada e só.
De distante parte ao mesmo tom em dia, lá nem tão próximo para em mar caminhar em pedras.
A cor dos olhos agora são azuis, ultrapassam o mar, a distância, diz o destino que me vem.
Quando pisar em teu peito, dominarei teus olhos azuis, seguirá o meu dedo, cantarás a minha música e me darás as sementes de plantio nessa terra nova.
Minha mão agora rege o seu destino e de outros olhos tantos.
Haverá preconceito, os dias serão belos, brincaremos com a fuligem da fogueira, dançaremos, rirão de nós e de nossos filhos, mas nos amaremos até o fim do último!
Nem mágoas levaremos.
Eles agora seguem só, meio pardos, meio sararás, meio brancos, meio pretos, alguns de olhos negros, outros azuis e verdes também... é que ainda hão de amadurecer aos olhos que os veem.
Descansamos na senzala que construíram para nós dois, a senzala do amor eterno, do respeito, da gratidão e até mesmo da dor, para que não haja esquecimento!