Crônica: Orelha de frango
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Sucesso total é o Bar do Tonho Bezerra, no Campo do Vila. O tira-gosto é dos melhores, o aperitivo vem da roça, a cerveja é sempre estupidamente gelada, e a clientela, composta por trabalhadores e atletas de gabarito, que fazem do local um ponto de diversão e de gostoso relaxamento após o dia de labuta.
Lá pelas 18h30, começa a chegar o pessoal. Segunda e quinta, quando há treino dos veteranos, o movimento é maior, e Bezerra é obrigado a se desdobrar para bem servir a rapaziada.
Gentil e boa praça, o jovem Gerson é freqüentador assíduo. Brincalhão, faz chacota com todo mundo e, conseqüentemente, acaba sendo vítima dos mais variados tipos de gozação.
Numa segunda-feira de verão, estavam jogando uma partida de truco o Eduardo Carvalho, o Américo, o Carmelo e o Tomatinho. Gerson pediu a “de fora” e não saiu mais. Não tinha jeito, estava com muita sorte e ganhava todas. O tempo foi passando, o pessoal chegando, e nada fazia o Gerson perder. Com isso, os tradicionais truqueiros foram ficando sem lugar.
Para poder tirar o rapaz da mesa sem briga, Bezerra recolheu o baralho e disse que precisava muito do jovem:
__Ô Gerson, o movimento está aumentando, e o tira-gosto tá pouco. Corre lá no Ki Sacolão e compra pra mim um quilo de orelha de frango.
Para dar uma panca ao amigo, Gerson, que já tinha tomado umas e outras, saiu às pressas e acabou não dando muita atenção ao pedido. Foi num pé e voltou noutro:
__Ô Bezerra, cê num falou se é de frango caipira ou de granja?
A gargalhada foi geral, e só aí Gerson atinou para a brincadeira que Bezerra estava fazendo com ele.