Crônica: Sem documento

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Sem documento
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Eternamente jovem, simpático e muito (muito mesmo) educado, Luiz Bicanca é pessoa espetacular. Prestativo, atleta de primeira qualidade, Bicanca sempre foi famoso na cidade.

Quando jovem, o jovem Luiz sempre foi muito jovem. E jovem que era jovem (principalmente em meados dos anos 70) precisava ser rebelde.

Lá pelos seus 16 anos, Bicanca tinha a mania de pegar “emprestado” o carro de seu pai (Vicente Bicanca) para dar uns rolés.

Naquela época, quando flagrava um menor dirigindo, a PM prendia a pessoa e o carro. E não foram poucas as vezes em que o João Soldado levou o adolescente Luiz Bicanca para a delegacia.

O tempo foi passando e Bicanca não tomava jeito. Fez 17 anos e o João Soldado atrás dele. Fez 18 anos e, quando achava que resolveria o problema, não conseguiu tirar carteira (dizem que não era bom na baliza). Parecia marcação, mas João Soldado via Bicanca ao volante e logo soltava o apito. Lá ia ele para a delegacia.

Mas todo mundo tem seu dia de vingança. Exame marcado, Bicanca acorda cedo, faz o teste de rua e passa. A felicidade foi imensa.

Para ir à forra, ele pregou a sua carteira novinha em folha com durex no pára-brisa do carro. Passou bem devagar na Praça Getúlio Vargas para ver se João Soldado o via. Ele ouve o apito... pára o carro... braço esquerdo dependurado na porta e o direito no volante... sem dizer uma palavra, ele aponta para a carteira.

Foi então que João Soldado quis ver os documentos do carro. Vicente Bicanca tinha se esquecido de pagar o IPVA e, mais uma vez - dizem que a última -, Luiz Bicanca e o carro foram parar na delegacia.