Crônica: Sempre colaborando

Manoel Gandra (de Formiga/MG()

Crônica: Sempre colaborando
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Bené Basílio foi, sem dúvidas, uma pessoa inesquecível. Político esperto e matreiro, foi um exemplo vivo de que dá para combinar astúcia política com honestidade.

Como vice-prefeito do Doutor Ari, Bené era um esteio. O que precisasse dele era na hora. Combinou com ele, era batata. Não descansava um minuto. Se era para o bem de Formiga, podia contar com ele. Sempre bem disposto, não tinha preguiça pra nada e trabalho não lhe punha medo.

Não tinha ninguém na cidade que não gostava do Seu Bené. Tem uma boa que o saudoso Comendador Osório (que era genro de seu irmão, Bastião Basílio) contava.

Dizia Osório que Bené, apesar de ter pouca leitura, era muito inteligente. Não tinha muita familiaridade com as letras, mas sua rapidez de raciocínio compensava.

Teve um dia que Bené cismou de contratar uma professora particular. Não dava para o vice-prefeito de uma cidade importante como Formiga não ser bom de leitura. Em pouco tempo, já estava lendo de tudo.

Em 1958, logo após as festanças do centenário da cidade, Bené e Doutor Ari resolveram ir à exposição agropecuária de Uberaba para dar uma descançadinha. Foi lá que saber ler deu prejuízo ao vice-prefeito de Formiga.

Ainda com entusiasmo pelas letras, o vice-prefeito fazia questão de soletrar o que via pela frente. Na porta do parque de expoições, leu em uma lixeira:

__ Co-la-bo-re  com a lim-pe-za  de U-be-ra-ba.

Bené tirou a carteira do bolso e comentou com Doutor Ari:

__Nóis da Formiga num fica pra tráis não.

Tirou uma nota de cinqüenta contos e jogou na lixeira para colaborar com a limpeza da bela cidade do Triângulo Mineiro.