Crônica: Show em Arcos

Hoje artista famoso (morou nos Estados Unidos e já gravou até CD), o guitarrista Jorge Bodeus já teve seus dias de vacas magras e de artista de barzinho.

Há cerca de dez anos, Bodeus fazia espetáculos pela região. Fez shows em Formiga, Campo Belo e outras cidades. Foi ganhando fama e muita gente ligava querendo saber o preço da apresentação e se tinha vaga na agenda.

Como todo bom artista, Bodeus era mais preocupado com a qualidade do som do que com os contratos. Foi aí que resolveu procurar alguém que pudesse fazer papel de empresário. A primeira pessoa na qual pensou foi o seu amigo Manoel Fonseca, o diretor de “O Pergaminho”, que acabou aceitando a incumbência.

Não passou nem um dia e Manoel recebeu o telefonema do proprietário do então mais famoso bar de Arcos, o “Tio Patinhas”. Combinaram, Manoel e Bodeus, de irem à cidade vizinha negociar o show.

__Olhe aqui, Bodeus, você fica só ouvindo e não fala nada não. É só deixar comigo, orientou o empresário. 

Chegaram ao “Tio Patinhas”, era uma sexta-feira à tarde, e o proprietário logo veio com uma cervejinha gelada.

__Muito obrigado, mas a gente não bebe quando está em serviço, explicou Manoel.

__Que é isso, uma cervejinha só não vai matar ninguém, disse Bodeus, já enchendo o copo.

Meio sem graça, Manoel tentou dar a dica para Bodeus, que, entusiasmado com o preço da “gelada”, nem notava. Conversa vai, conversa vem, o proprietário do bar quis saber quanto custaria o show de Bodeus. Manoel se ajeita na cadeira e solta:

__Você sabe que o cara é muito bom e está arrebentando. Mas como Arcos é uma cidade irmã, acho que poderemos fazer duas noites por 15 mil cruzeiros (moeda da época).

Manoel nem acabou de argumentar e Bodeus, que estava na terceira “gelada”, intercedeu:

__Cê tá é doido. Não vale isso não, eu tô começando e ninguém vai pagar 15 mil por duas noites. Isso é pra quem já está famoso...

Manoel tentou cutucar Bodeus por debaixo da mesa.

__Pô Manoel, dá pra parar de me chutar...

Não teve jeito. O dono do “Tio Patinhas” não contratou ninguém. Manoel nunca mais se aventurou a empresário artístico e Bodeus parou de beber. Hoje, ele fica só no refrigerante e na água mineral.