Crônica: Tirando a roupa
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Ronaldo Nogueira Duarte (o Asa), era um dos diretores da Viação Formiga (VFL), a empresa de lotação que presta serviços à cidade. Com uma equipe de motoristas de fazer inveja à Cometa e à Itapemerim, a VFL tem como cabeceira dentre seus motoristas o experiente Roque, o Roque da VFL, como é conhecido.
Quando foi contratado, anos 80, Roque teve de passar por treinamento para poder dirigir os modernos lotações pelas ruas estreitas e ladeiras da cidade. O diretor Asa lhe deu várias orientações e recomendações, e ele começou a prestar os serviços.
Naquele tempo proliferavam as igrejas evangélicas em Formiga, e os lotações andavam sempre cheios de crentes, cada um querendo conhecer a igreja do outro. No Bairro Água Vermelha, havia um culto muito concorrido de um pastor que morava longe, perto do Quinzinho. Muito popular, tal missionário levava com ele uma grande quantidade de fiéis. Dava seis da tarde, hora do culto, e o lotação, literalmente, lotava.
Uma vez, passando pela Rua Barão de Piumhi, o motorista Roque foi abordado por uma senhora, que ao lado do volante pediu para ele parar:
__Ô seu moço, faça o favor de me deixar aqui.
Ele encostou, e ela continuou:
__Agora abre a porta de trás, porque eu preciso tirar a roupa.
Roque da VFL ficou apavorado, achou um desrespeito:
__Pelo amor de Deus, minha senhora. O carro tá cheio de crente, tem até pastor. Vai ser um escândalo... faz isso não.
A mulher levou um susto e deu uma esculhambada no Roque. É que ela era lavadeira e estava com uma mala de roupas para entregar, que de tão grande não passou na roleta. Por isso, era preciso abrir a porta de trás para ela “tirar a roupa”.