Cronicando: Bicicleta
Robledo Carlos (de Divinópolis)

Eu tive uma.
Ganhei de Natal, repassada de meu irmão.
Nova que só, velha de sempre.
Magia em pedais de equilíbrio e vida em raios.
Nada fácil dessa vida sem freios.
De vento ao rosto e cabelo sem movimento, mas nem atento, arregalo os dentes em sorriso que só Deus sabe.
A poeira me arde aos olhos, as lágrimas untam o momento sublime.
Agora de velho, tenho velhices, não tenho tremuras ainda, tenho bicicletas, velhas de história, iguais às minhas.
Não sei nada de nenhuma, de quem foi, quem era, se era de doutor, do padeiro ou do padre!
Hoje tirei uma e deixei encostada ao muro, meio que em descanso.
Ameaça a chuva e nesse momento em que a vislumbrava, cai alguns pingos d’água sobre ela, imóvel, inerte encostada ao muro.
De velho, o meu pensamento corre e eu a tiro da chuva, como não se fosse minha, como se cuidasse de quem ela era verdadeiramente, e vi que ela não era minha, assim será de outro
Eu sigo sem freios, sem paralamas e faróis.
E ela nem era de mim.