Cronicando: Das mil mortes de mim

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Cronicando: Das mil mortes de mim
Robledo Carlos é representante comercial




Em que retardo a minha morte,

morro um pouco a cada dia que se passa, já até perdi o medo, morte certa de minha morte incerta.

Até teu cheiro me vem, alfazema ou talvez lavanda.

Meu espelho testemunha-me em preto e branco.

Olho para o barbeador com descaso.

Renasço sempre depois, menos vigoroso, com força pouca e com medo de não alcançar meus sonhos, decadentes, banguelas, mas ainda sorriem para mim.

Queria a humildade de meu inseparável cachorro, não me deixa chorar sozinho, só não posso deixar de sonhar!  

De certo, morrerei ainda essa semana, quanto à forma ainda nem sei, mas de certo, morro.

Talvez de tristeza, mas não gosto dessa forma de morrer, deve ser triste, morrer triste.

Mas eu não posso deixar de chorar, é riacho que me banha.

Ou talvez de solidão, com muita gente ao meu lado, a beijar-me, mas que ninguém me deixe ao sol ou com feridas nas nádegas.

Queria morrer assim… talvez cantando.

Um homem não chora sozinho!

Acordo de minhas mortes com afagos do menino que mora dentro de mim, e me diz, que não posso deixar de sonhar.

Amanhã talvez eu morra.

Se o menino desistir de meus sonhos, talvez eu morra, é o meu temor.