Cronicando: Eu e o Machado

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Cronicando: Eu e o Machado
Robledo Carlos é representante comercial




Enquanto caminho, avalio o que passa diante aos olhos.

Parece que busco sombras, mas não as sombrias, tenebrosas; busco frescor para descanso. É longo a caminhada, o percurso é desafiador.

Ao olhar para trás, percebo o caminho já feito, cortes, picadas e clarões.

Tenho em mãos o machado que afiado fere, cego fere, tosco fere, pesa, caleja, enferruja.

É dele que sirvo. Meu alívio e meu conflito.

Impossível romper sem tê-lo em mãos, é espada e escudo. Não se rompe, não há conquistas sem o rude machado.

Ele desafia-me.

Às vezes, penso em voltar mas já sei onde o caminho vai me levar de volta, ou, se fosse criança e sem o machado, poderia ir voando sobre as árvores.

Mas tenho é o machado.

Podo, extirpo, construo, retalho.

Calejo entre urros, gemidos em impactos de lamento e dor.

Vida de lenhador que embranha, não teme e mente.

Estranhamente me sinto só, uma extensão de mim, às vezes sombria e ao mesmo tempo clara e lúcida, em desafios perturbadores.

Demonstro poder com ele em minhas mãos, demostro para mim mesmo.

Eu o trago sempre afiado, eu confio nele e ele em mim!

Agora estou a afiá-lo cuidadosamente, talvez quisesse jogá-lo em profundo pântano, mas ele, a esculpir-me em carinhosa laceração, contempla-se.

 

Robledo Carlos é membro da Academia Formiguense de Letras