Cronicando: Kashmir
Robledo Carlos (de Divinópolis)

Solidão em cinza que devorar-me-ia se assim o quisesse.
Transcende aqui de mim, sentado ao lado dela.
Resisto às vezes de companhia sem cor.
Hoje farei.
Quero percebê-la na condição de amante.
No silêncio contumaz ao ouvir abelhas
Retiro uma aquarela e pincéis revestidos de cimento seco e áspero.
O ar é frio e inebria de rosas. Já vejo beija-flor em cores em nossa volta.
Quero ouvir Kashmir, um pantone de sons invadem meus ouvidos. Cai a aquarela de cores em meu velho tênis, arranco como se fosse uma bota coberta de pregos, deixando meus pés cadavéricos e feridos, que vão mudando de cor assim que danço descalço sob as cores.
Pintei minha tristeza de vermelho, e desenhei sorrisos vibrantes.
O amargor, pintei de vinho, tinto.
Meleca colorida de explosão de sentimentos.
Com os dedos, coloro os olhos da solidão ao meu lado, impassível, imóvel.
Danço a escorregar sob a grama cinza de outrora, agora azul anil. Pinto gaivotas no horizonte amarelo, faço manchas de mãos em meu cachorro que pula comigo.
No sol eu joguei azul, rosa, verde, amarelo e ficou misturado com o arco-íris.
Minha velha calça jeans é agora grunge dançante.
Minhas lágrimas lavam meu rosto que riscam assim como índio.
Passo a mão no chão e esfrego na cara da solidão, molhando seus cabelos com a cor de seus olhos.
Ela sorri para mim, e, abraçados, dançamos juntos.
Meu cachorro pintado a mãos, aplaude.