Cronicando: Papilo e o Carvalho
Robledo Carlos (de Divinópolis)

Silêncio de florestas de mil vidas em sol que invade a tela.
Eu o vejo voar…
Vindas de longe, em busca de flores, flores doutros chãos.
Viera dos teixos, em ventos do Levante, trazidos do Algarve.
Viçoso e destemido, porém despretensioso sobre esse mar sem fim, naquele voo de borboleta que se vê, totalmente intrépido!
Era meio que em tempo, percebia-se em voos pausados, mas ainda com garbo em buscas de cores.
Perdestes a cor, um pouco, mas ainda é grandiosamente belo.
Segue-se na sua lisura e cordialidade que te é presente.
Observava-o desde sempre, eu o vi voar sobre a relva em manhãs de sol, presenciei pousado em flores, o vi desviando de ventos e tempestades, e também em inebriante êxtase.
Gostei disso tudo que vi!
Agora resseca o casulo, inerte à sombra do carvalho que hora habita, pendurado em frondosa árvore.
Delicia o repouso em aconchego em sonhos de voos.
Há pequenos movimentos, de cabeça pra baixo, acho que de dentro ele nos vê.
Ele luta a despedir do casulo em clausura, ele rompe em luz que lhe invade.
É liberdade de outros ventos.
Observo-o e ouço seu respirar.
Ele vai saindo devagar, ainda pendurado, mas me vê, aquece um pouco ao sol, irriga suas asas e alça voo, ainda dá uma volta sobre mim e vai… despretensiosamente num voo sobre jardins, esses celestiais, e me vê lá de cima, eu já não o vejo.
Ele talvez tenha voltado onde são fincados os teixos.
Ao relento, dentro do seu cerne, o carvalho sabe que é uma pausa para a dor, talvez nem seja pausa, mas um tempo efêmero da vida do Papilo que nem tão pouco o Carvalho, que pensa ser eterno, aí ele percebe e chora.
Diferença pouca entre o Papilo e o carvalho, de um tempo de trás pra frente, que só altera o luar, que nem vê.
Voe Papilo, é tempo de alçar voos, de novo!