Cronicando: Pataca

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Cronicando: Pataca
Robledo Carlos é membro da Academia Formiguense de Letras




Era mesmo meu dia de sorte. Caminhava tranquilo e descontraído com meu bodoque no pescoço e, de longe, vi seu brilho. Estava lá, bem no meio junto às pedras e o barro.
Apanhei e logo verifiquei que era uma pataca, tirei o excesso de barro, 320 contos de réis, ali tão fácil para mim. Estava no lugar certo e na hora certa! A gratidão me veio ao coração, elevei meus olhos ao céus e agradeci  profundamente a sorte ou, quem sabe, a graça de Deus.
A vida se faz de ações, fé e sorte, diriam uns.
Não tão distante dali, um homem procura apavorado em sua gibeira a pataca de 320 contos de réis que havia recebido do trabalho árduo que havia feito dias antes.
Deixa a enxada no chão, procura à sua volta e nada.
Reclama da velha gibeira e solta palavrões em fúria.
O dinheiro seria para pagar o armazém e comprar mais provisões para o mês seguinte.
Havia perdido 320 contos de réis.
Eleva os olhos aos céus e questiona a Deus o infortúnio e a má sorte que diz ter.
Roga pragas a si mesmo, a sorte e a Deus.
Agora Deus, entre o bodoque e a enxada.
Mas a pataca vai para o armazém, será gasto em gulozeimas e fumo.
A vida segue com sorte e com fé, o azar é seu.