Cronicando: Pele preta

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Cronicando: Pele preta
Robledo Carlos é representante comercial




A minha pele preta rubra em quente.

Mistura ao roxo sacro profano em que me vês.

Mas, rubra-te em mim.

Que mal fazemos em nos amar?

Nem queria deixar de te amar!

Nesse momento em que nos amamos, somos livres, sem o ouro ou incenso.

Não poderia mais um dia sem te ver.

Que sigamos o rumo que dá o vento, sem respeito, sem medo de tempestades que causaremos.

Não queria ter o medo de acordar ao som da torre em sinos ao despertar sob seus braços.

Queria ver crianças a correr pela casa, e, ao chegar à janela, te ver em lida.

Seria bom ver um poeta descrever a nossa história em cantos sem vergonha de ser quem corria pela casa.

Esse silêncio que devemos em nos amar, mas amar uma preta, seja

somente mais um obstáculo de séculos que separam a história de um amor desmedido, entre um véu e uma patena.

Cria o lodo em muros, formam-se o zinabre em bronze, tudo se transforma em trapos e nosso amor corre agora em campos limpos de lavandas, em que nada se cobre mais em cores, nem preto nem branco. Que ninguém proíba nossos gritos em liberdade, e que em outros tempos, não desistamos de nos amar, simplesmente como uma mulher e um homem.

Um poeta, talvez ao seu ver, nos veja completamente feliz.