Cronicando: Solitude
Robledo Carlos (de Divinópolis)

Se me aquieto, é que preciso encontrar-te.
Solitude.
Me guardo em ausências suas.
É tamanha a certeza desse encontro saudável e aconchegante, uma pena que não bebas.
Apenas em um banco simples ou em um silêncio de abelhas onde te encontro. Eu sempre retorno à sua presença, se é que te abandonei algum dia. Não requer de mim as exposições de minhas verdades e medos que já não consigo mostrar, assim como em uma vitrine de joias ou até mesmo como nos olhos de compradores em açougues sangrentos e fétidos.
Embebedar-me de sua presença sóbria, discreta e compreensiva, em cálice límpido.
Diante de ti nem me curvo de pesos que carrego, pesos desnecessários de um velho acumulador de sonhos e saudade. Em você me encontro sem cobranças nem conselhos de auto ajuda.
Não me cobras um beijo e nem te deitas comigo.
Um compromisso fecundo de cumplicidade, uma compreensão infinita de montanhas e vales pintados à mão pendurados em um prego no canto da sala.
Te encontro, venha ocupar-me em perpétuo alívio.
Mesmo nessas profundezas em que me encontro, de certo sei que a encontrarei, pois do mais abissal negro ao mais alto dos Apenimos, tua presença é palpável, nem distante do coração, é só um fechar de olhos.
Encontro-me junto a ti, em um rude banco ou em uma avenida cheia de ninguém.
Já nem saio em buscas de outros, agora, quem quiser, que me busque.
Estou por aí, sentado em um banco ou à espera de um trem, só não sei se ainda vem ou se já passou, mas tão pouco me interessa quem passa diante de mim nem o horário desse trem, só sei que estás comigo e isso me basta em cargas.
Se tu te ausentas, é que por ti guardei em mim a aquietar-me em solícito silêncio de sua presença.