Ex-moradora de Formiga, Adélia Prado recebe Prêmio Camões 2024

Honraria, a mais importante da literatura portuguesa, já foi entregue também ao escritor formiguense Silviano Santiago

Ex-moradora de Formiga, Adélia Prado recebe Prêmio Camões 2024
A escritora Adélia Prado - Foto: Wikipédia/Reprodução




A poetisa e escritora brasileira Adélia Prado, que no início dos anos 60 residiu em Formiga, cidade onde nasceram dois de seus cinco filhos, foi condecorada nesta terça-feira, dia 18, com a mais alta distinção literária da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP): o Prêmio Camões. A honraria relativa ao ano de 2024 foi entregue durante uma solenidade no Palácio do Itamaraty, em Brasília. A escritora foi representada pelo filho mais velho, Eugênio Prado.

Em 2023, o escritor formiguense Silviano Santiago também foi laureado com esse importante prêmio relativo ao ano de 2022.

Conforme divulgou o portal do Ministério da Cultura, Adélia Prado é a terceira mulher brasileira a conquistar o Prêmio Camões de Literatura. O diploma de reconhecimento foi entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, em evento que integrou a visita de Estado do mandatário português ao Brasil.

O presidente Lula destacou em seu discurso a relevância da poesia de Adélia Prado como uma inspiração para a política e a sociedade.  “Adélia nos ensinou que ‘a vida é mais tempo alegre do que triste’, uma lição atual e necessária. Em tempos de crises econômicas, catástrofes climáticas, guerras e pandemias, não sucumbir ao desalento é um ato de resistência. É na desesperança, no medo e no ressentimento que viceja o ódio como projeto político. Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia. As pessoas estão no cerne de sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer ação de governo”, afirmou o presidente brasileiro.

Já o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ressaltou a importância da obra de Adélia Prado no contexto da literatura lusófona e sua contribuição para o pensamento poético contemporâneo. “Sua poesia expressa um humanismo cristão singular, permeado por uma poética de interrogação, mas também de esperança. Essa mesma esperança percorre outros poetas, de Cecília Meireles a Manuel Bandeira, passando primeiro por Vinícius de Moraes. No entanto, o que há de extraordinário em Adélia Prado é o fato de que, mesmo com as profundas transformações sociais e religiosas pelas quais o Brasil passou, sua poesia permaneceu sempre atual – e mais do que isso, pioneira”, declarou.

Durante a cerimônia de entrega do Prêmio Camões, Eugênio Prado, filho da poetisa mineira Adélia Prado, discursou em nome da mãe, expressando sua gratidão pela homenagem. Ele leu um agradecimento escrito pela escritora, na qual Adélia exaltou a importância da poesia como um reflexo do valor da língua portuguesa e da compreensão humana. “A celebração da poesia é, e sempre será, um sinal de que um povo preserva o tesouro inestimável de sua língua”, escreveu.

 

Prêmio Camões

Criado em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões é concedido anualmente a escritores cuja obra tenha contribuído de forma significativa para o patrimônio cultural da língua portuguesa. Com um valor de 100 mil euros, financiado igualmente pelos dois países, o prêmio destaca autores pelo conjunto de sua produção literária.

O diploma entregue aos agraciados traz o nome de todos os países de língua portuguesa e é assinado pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal. Entre os vencedores, há escritores do Brasil, Portugal, Moçambique, Angola e Cabo Verde. Na 36ª edição, a homenageada foi a escritora mineira Adélia Prado.

 

Adélia Prado

Nascida em 1935, na cidade de Divinópolis, Minas Gerais, Adélia Prado é licenciada em Filosofia e iniciou sua carreira literária com o apoio de Carlos Drummond de Andrade. Seu primeiro livro, Bagagem (1976), chamou a atenção pela originalidade e pela força de sua voz poética. Ao longo das décadas, construiu uma obra marcada pelo lirismo, pela reflexão filosófica e por um olhar sensível sobre o cotidiano. Sua trajetória literária inclui prêmios importantes, como o Jabuti, e um reconhecimento crescente em toda a comunidade lusófona.

Em Formiga, ela foi vizinha da educadora musical e musicoterapeuta Elizabeth Batista, na Rua Gonçalves D’Amarante. Depois, se mudou para a Rua Monsenhor João Ivo. Segundo Elizabeth, o marido de Adélia trabalhava na agência do Banco do Brasil e no tempo que ficou em Formiga teve dois de seus cinco filhos. “Eu era ainda menina. Na época, Adélia ainda não se reconhecia poetisa, foi o que ela própria me disse quando nos reencontramos em um evento promovido pela Secretaria Municipal de Educação anos atrás, em que a escritora palestrou aos pedagogos locais”, contou Elizabeth.

Os presidentes Marcelo Rebelo e Lula entregaram o prêmio à poetisa Adélia Prado, que foi representada por seu filho Eugênio Prado - Foto: Ricardo Stuckert/Secom-Pr

 

 

Silviano Santiago e o Prêmio Camões 2022

 

No dia 14 de novembro de 2023, o escritor formiguense Silviano Santiago, que também é ensaísta, poeta, contista, romancista e professor, foi condecorado com o Prêmio Camões 2022. A solenidade foi realizada no auditório Machado de Assis, na sede da Biblioteca Nacional (órgão vinculado ao Ministério da Cultura), no Rio de Janeiro.

Nascido em Formiga no dia 29 de setembro de 1936, Silviano Santiago é

O evento, que foi fechado para convidados, contou com as presenças do presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Marco Lucchesi; da ministra da Cultura, Margareth Menezes; e do embaixador português no Brasil, Luís Faro Ramos, representando o ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva.

Para conceder a honraria ao formiguense, o júri do Prêmio Camões 2022 fez a seguinte justificativa: “Silviano Santiago, além de escritor com uma obra literária com vários prêmios nacionais e internacionais (Jabuti, Oceanos, etc.), é um pensador capaz de uma intervenção cívica e cultural de grande relevância, com um contributo notável para a projeção da língua portuguesa como língua do pensamento crítico, no Brasil e fora dele (nos países ibero-americanos, nos Estados Unidos e na Europa)”.

O escritor Silviano Santiago - Foto: Facebook/Reprodução