Garantia na caixinha

Enganar muitas vezes é um ótimo negócio, espalhar dúvidas como verdade verdadeira dá lucro e mentir, muitas vezes, é um descaramento que faz milionários.
Lá pelo início dos anos 1970, a indústria agrícola produtora de soja plantou em vários veículos de comunicação de massa a notícia de que a banha de porco, até então indispensável em qualquer cozinha de mãe, aumentava o colesterol, a pressão e até a glicose. Num instante todo mundo deu uma banana para a banha de porco e começou a usar óleo de soja. Foi uma explosão.
Depois foi a vez dos ovos. Ao quebrar a casquinha oriunda do galináceo, marido, mulher e filhos estariam expostos a índices inimagináveis de colesterol. Para se satisfazer de proteínas, só mesmo a segurança das carnes de peixe, frango, boi e porco.
Aí, a margarina foi a vez. Bom mesmo era a manteiga, que, por sinal, era, e ainda é, muito mais cara. Consumir margarina, além de ser um risco para saúde, virou coisa de pobre e gente brega.
O tempo foi passando e os ventos fizeram curva. Muita gente hoje está se voltando para a banha de porco “pra dar mais sabor”, a credibilidade do ovo voltou às origens e a margarina vai voltando para as mesas sem o mínimo de culpa.
Na produção industrial, o engodo foi a questão dos recicláveis. Virou moda juntar de latinhas de alumínio a garrafas pets, até o lixo se dividiu em úmido e seco.
O que pouca gente atinou é que para o bem do meio ambiente e, consequentemente, da natureza, o importante não é reciclável e sim o reutilizável. Antigamente, o sujeito para comprar cerveja tinha de levar o casco, se ia buscar marmita, eram em uns vasilhames com alça que colocava uma panelinha por cima da outra. Com a desculpa esfarrapada de que o reciclado era mais importante, o negócio cresceu. Cada vez que se compra alguma coisa, uma nova embalagem tem de ser produzida.
Já no século XXI, a esperteza está na garantia oferecida por lojas e fabricantes dos eletroeletrônicos. O sujeito compra um aparelho de som amplificado, um celular ou até uma smart-TV e para ter a garantia dos seis meses ou um ano que vem na propaganda, ele tem de guardar a caixa, não adianta mais a nota fiscal ou um papelzinho com a palavra “Garantia” impressa. Dá para imaginar um casal que acaba de entrar para vida nova em sua casa nova tendo de reservar um quarto só para guardar as caixas que são as garantias.
Na política formiguense, acaba sendo a mesma coisa. Tem gente que pavimentou sua trajetória no óleo e na banha de porco, que pisou nos ovos dos eleitores para poder saborear a sua picanha no fim de semana, que foi embora da cidade se dizendo decepcionado e revoltado e que agora quer voltar para andar em um carrinho de margarina e outro de manteiga para se garantir na base “do que vier eu traço, estou chegando para lambuzar o pedaço”.
Como já caiu no golpe da banha de porco, do colesterol do ovo e no impasse manteiga/margarina, o eleitor formiguense deve ficar de olho na caixinha, ele vai ver que tem gente querendo reaparecer nas Areias Brancas, cidade que desprezou com tanto gosto, com a garantia vencida desde outubro de 2020.