MPMG promove encontro com movimentos sociais do Vale do Rio Doce para ouvir reivindicações e estabelecer plano de trabalho

MPMG promove encontro com movimentos sociais do Vale do Rio Doce para ouvir  reivindicações e estabelecer plano de trabalho




Danos ambientais e sociais causados pelo rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana, há quase oito anos, foi pauta principal de discussões. Coordenador regional de Mobilização e Inclusão Sociais, promotor de Justiça Evandro Ventura, destacou importância da aproximação dos membros da instituição com a população. "Escutar as pessoas, dar andamento às reivindicações e tentar solucionar os problemas apresentados é um dever institucional".

"O Rio, para a gente, é tudo. A água é o que temos de mais importante". Com essa manifestação, o cacique Baiara, da aldeia Pataxó Geru Tucunã, no município de Açucena, abriu, nesta quinta-feira, 17 de agosto, as falas de representantes da população do Vale do Rio Doce, durante o "Encontro do Ministério Público com os Movimentos Sociais e a Sociedade Organizada".

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Promovido pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos), no Auditório da Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce (Fadivale), em Governador Valadares, o evento é parte dos esforços da instituição em aprimorar seus canais de escuta para atender às demandas relacionadas aos direitos fundamentais desses grupos.

O discurso do líder indígena, no início do encontro, indicou qual seria a pauta principal de discussões durante todo o dia: os inúmeros danos ambientais e sociais causados pelo rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, no município de Mariana, há quase oito anos, e que ainda repercutem diariamente na vida dos atingidos.

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Além das consequências desse crime, considerado o maior do gênero da história brasileira, representantes de movimentos sociais tiveram a oportunidade de expor, diante de um auditório lotado, outros problemas locais. Entre eles, questões relacionadas aos direitos de povos tradicionais, como quilombolas, indígenas, ribeirinhos e ilheiros, da população de rua, de catadores de materiais recicláveis, referentes à violência no campo, à violência contra a mulher, à saúde, à educação, entre outros temas.

O coordenador regional de Mobilização e Inclusão Sociais do MPMG, promotor de Justiça Evandro Ventura, salientou que o desejo principal da população local, diante do grande impacto gerado pela mineração na região, é por justiça. "As pessoas querem que o Rio Doce seja confiável novamente. E, para isso, é preciso que haja uma recuperação do rio, de um modo geral, pela empresa. A população anseia também pela responsabilização dos responsáveis e pela reparação dos danos sofridos. Nada mais do que a efetivação dos direitos que possuem", resumiu.

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De acordo com o promotor, a aproximação dos membros do Ministério Público com a comunidade é fundamental, uma vez que o órgão é o responsável pela escuta das reivindicações da sociedade. "O MP foi criado para ouvir as demandas sociais e para ser um interlocutor dessas demandas, a fim de efetivar direitos. Assim, escutar as pessoas, dar andamento às reivindicações e tentar solucionar os problemas apresentados é um dever institucional", observou.

Luta contínua

A professora Simone Silva, membro da Comissão dos Atingidos de Barra Longa, contou um pouco sobre as dificuldades enfrentadas pela população local desde o rompimento da barragem de Fundão e destacou a presença do MPMG ao lado dos atingidos, ao longo de todos esses anos, na busca por Justiça. "Não tem sido fácil resistir diante de um sistema inteiro que não caminha com a gente. Somos vítimas de um crime e, por isso, somos obrigados a participar desses encontros. É uma luta contínua. Enquanto tiver atingido sem ser reconhecido, nós estaremos firmes e fortes na luta por todos", expôs.

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Integrante do assentamento Oziel Alves Pereira, em Governador Valadares, e do Fórum Regional de Combate à Violência no Campo e na Cidade, Martinha Jorge Moreira também fez uso da palavra e pediu o apoio do MP no combate à violência no campo. "A região do Vale do Rio Doce é muito marcada por esse tipo de violência, porque a concentração de terras é grande demais. Em junho desse ano, um companheiro nosso foi assassinado dentro de sua própria casa. Não sabemos ainda o que motivou o crime. Viemos reivindicar empenho da justiça para investigar o assassinado, para punir os responsáveis e para ajudar a solucionar a questão da violência na nossa região".

Durante o encontro, o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Combate aos Conflitos Agrários do MPMG, procurador de Justiça Afonso Henrique de Miranda Teixeira, destacou a importância do acesso à terra e ao trabalho. "Não é possível falar do princípio da dignidade humana sem falar de moradia, pois ela é estruturante desse princípio", ressaltou.

De acordo com o procurador, os cidadãos precisam ser inseridos no processo de construção do país, para que haja democracia. "Sem os movimentos sociais, não é possível construir uma república democrática, como preceitua a Constituição", acrescentou.

Por sua vez, o coordenador da Cimos, promotor de Justiça Paulo César Vicente de Lima, informou que a realização de encontros com movimentos sociais pelo MP cumpre a Recomendação 61/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público e comentou sobre a pluralidade das demandas da região. "São muitas as pautas que envolvem a Bacia do Rio Doce. O MP está aqui para ouvir e construir um plano de atuação. Trouxemos a Ouvidoria da instituição para nos ajudar a registrar as demandas apresentadas e a dar um encaminhamento efetivo a elas".

Repactuação

O procurador-geral de Justiça, Jarbas Soares Júnior, reforçou o compromisso institucional com a população e recordou os esforços do MP para garantir os direitos dos atingidos pela tragédia de Mariana. "Não estamos ao lado de interesses que não sejam os da sociedade. O acordo feito lá atrás foi tão grave quanto a tragédia, pois foi feito de forma irresponsável. Por isso, o MP não o assinou. Estamos na mesa conversando para proteger os direitos na população. Continuaremos trabalhando e ouvindo os atingidos para que as empresas responsáveis paguem pelo que fizeram", afirmou.

Jarbas ainda comentou sobre a importância de o MP ouvir também as críticas ao trabalho da instituição, para aperfeiçoá-lo. "É uma oportunidade também para que a sociedade organizada e os cidadãos possam levar as suas contribuições à instituição. O MP precisa acessar o sentimento das pessoas, para que eles sejam traduzidos nas nossas ações em defesa dos direitos delas".

O coordenador da Força-Tarefa do Rio Doce, procurador da República Carlos Bruno Ferreira da Silva, também participou da escuta da população e avaliou o encontro como "importantíssimo", especialmente pelo número de participantes e de regiões representadas. "Cada vez que o Ministério Público Federal e o Ministério Público de Minas Gerais ouvem as pautas da comunidade, isso nos ajuda a peticionar no processo, porque a gente entende melhor os problemas, o que está ocorrendo na prática".

Ainda conforme o procurador, em razão da extensão do Rio Doce e da impossibilidade de o Ministério Público estar em todas as localidades, ouvir as reivindicações dos moradores é fundamental para transformá-las em demandas e para conseguir a efetivação dos direitos a elas relacionados.

Veja as fotos do evento:

Encontro MPMG com Movimentos Sociais em Governador Valadares 17.08.23

Fonte: Ministério Publico MG