Opinião: Águas passadas movem moinhos!

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Opinião: Águas passadas movem moinhos!
(Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor do UNIFOR-MG, coordenador do laboratório de mineralogia e especialista em Solos e Meio-Ambiente)




Quem falou que águas passadas não movem moinhos não conheceu nada do ciclo da água, com certeza! O caso é que as águas sempre moveram moinhos, por diversas vezes durante os séculos. A água é a molécula mais fascinante do nosso planeta. Além de ser indispensável a toda e qualquer forma de vida conhecida, possui propriedades físicas e químicas tão impressionantes que se prestam para estudos em diversas áreas.

 Desde que as condições do planeta permitiram que a água passasse do vapor para a forma líquida, ela tem sido continuamente reciclada pela natureza nos últimos 4.000.000.000 de anos. O ciclo da água é extremamente interessante, já que o tempo de permanência da mesma nos mais diversos meios é bem variável. No organismo humano, por exemplo, sua permanência varia de poucas horas a alguns dias. Já nas geleiras ela pode ficar retida por milhares de anos. Quando ligada estruturalmente aos minerais, pode permanecer ali por dezenas de milhões de anos. Há também a água juvenil, existente nas rochas do manto e no magma, a qual nunca participou do ciclo na superfície do planeta.

Água é vida mesmo, foi onde a vida surgiu e desde então ela tem participado continuamente da evolução de todos os seres vivos do planeta. Escutamos muito dizerem por aí que a água está acabando, mas o volume total de água no planeta continua o mesmo; estranho, né? Não é verdade. O que está acontecendo é que estamos poluindo a água potável disponível, alterando os índices pluviométricos e sua percolação nos solos de muitos locais, através de desmatamentos e práticas inadequadas de manejo. Com isso, quando chove, a água não percola o solo como deveria e daí escorre superficialmente, aumentando o processo erosivo e causando cheias momentâneas nos rios. O restante dela está chovendo em outros locais, pois como foi dito, ela não acaba; apenas muda de lugar.

O que precisamos fazer é voltar a aumentar o tempo de permanência da água em nosso meio, atrasar seu retorno ao seu ciclo e usufruirmos com parcimônia de sua presença. Precisamos começar a usar a cabeça e perceber que ela não precisa de nós; nós é que precisamos dela. A água é como o espírito, a própria alma; pode estar poluída e maculada por nós enquanto na superfície do planeta. Pode estar servindo de depósito de lixo e sofrendo com o descaso humano, mas quando evapora e ascende aos céus, deixa para trás toda e qualquer impureza, voltando a ser apenas H2O. Posteriormente suas moléculas se juntam e vertem puras das nuvens de chuva, como se trouxessem para nós mais uma chance, mais um perdão, mais uma oportunidade de renovação.