Cronicando: Bar Brasília
Robledo Carlos (de Divinópolis)

O sol reflete a placa da Coca fazendo sombra na Mirinda.
Eu aprecio o silêncio que ainda reina, é possível ouvir o riacho.
Em ritual eterno, Inácio tira a penca de chaves em um chaveiro de pé de coelho de cor indefinida e pouca pelagem pelo tempo, guarda a Olé 70 e abre as portas de duas abas ao público!
Sons de metais de ferrolho em passeio de cimento cinza e áspero.
Varre o passeio, cumprimenta a vizinha com vestido colorido desbotado e lenço na cabeça, que descansa as mãos na ponta da vassoura querendo prosa, é Dona Mariana.
Bom dia, curto e grosso.
Mesmo antes do primeiro freguês, a água já põe a ferver e a lavar copos!
O cheiro é de azedo, bitucas de cigarro espalhados ao chão, enquanto se passa o pano de cheiro insuportável no balcão de cutuvelos de poetas bêbados, trabalhadores e boêmios.
Expõe em mesas desejos, alegrias entre guardanapos.
Liga o rádio e já se pode ouvir músicas, orações matinais entre um lavar de copo, uma descarga, um pigarro e um copo quebrado.
Daqui a pouco, balcão de notícias, bom dia de muitos e estalar de copos no balcão.
É um rito, uma cerimônia à espera de vozes, nem sempre fazem nada, para quem as ouvem são conforto, são acalento, são piadas e orgias.
Já tem cheiro de café e o sol já não cobre Mirinda.
Agora já tem pastel e coxinha na estufa para olhos a devorar.
Ao entardecer de sol em despedida, invadindo em cumprimentos, apertos de mãos e abraços.
Formiga ganhou do Comercial, “jogo duro”, disse alguém!
Bate um copo no balcão em sons de arremate de leilão e pede um rabo de galo.
Alegria, falácias e amizades das tardes de sempre.
O sol se põe, vem a lua e as estrelas!
Todos já se foram, despediram como sempre para o amanhã.
Ao amanhecer em fogo, queimando sonhos, risos e luta.
O sol procura em vão, sem Coca e Mirinda, reflete em lágrimas no passeio cinza.