Opinião: Bruxos ou magos!

AC de Paula (de São Paulo)

Opinião: Bruxos ou magos!
AC de Paula é poeta, compositor e dramaturgo




Bruxos ou magos? A bruxaria que temos por aqui é bem diferente daquela   prática ancestral que envolve o uso de energia e intenção para manifestar mudanças em nossas vidas. Existem dois bruxos tupiniquins que se destacam na tapeçaria cultural, rica, diversificada, tecida com fios de diversas tradições e crenças. Em comum, além da genialidade, eles têm a cor da pele. A bruxaria ou, como muitos preferem chamar, a magia, é uma dessas tradições que tem ganhado destaque e reconhecimento. Aqui, a magia não é apenas um eco do passado, mas uma prática viva que se entrelaça com o cotidiano das pessoas, e suas práticas vão muito além de rituais e poções excêntricas e misteriosas.

Seu efeito é extasiante e é impossível não ser envolvido pela beleza e plasticidade de suas tramas. Os praticantes da bruxaria na verdade são magos que conhecem profundamente os segredos de suas habilidades, que refletem a alma vibrante do país. Posso dizer que é uma bruxaria, ou magia, colorida, intensa e com as raízes profundamente fincadas no cenário cotidiano, e seus efeitos permeiam a cultura brasileira, transmitem conhecimentos, levantam plateias e encantam multidões, por aqui e pelo mundo. Nossos magos têm o poder de encantar e nenhum deles tem uma varinha mágica e jamais pilotaram vassouras voadoras. 

Eles produzem uma magia tangível, no panteão dos bruxos brasileiros, seus nomes ressoam com uma magia que transcende o tempo e os campos de atuação: Ronaldinho, o Bruxo do Futebol, e Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho, ambos mestres em suas artes, teceram feitiços que encantaram e continuam a encantar gerações.

Ronaldinho Gaúcho – O Feiticeiro dos Gramados, com seu sorriso largo e sua magia nos pés, foi um alquimista da bola. Nos estádios de futebol, ele transformava o couro em tesouro, driblando o impossível e marcando gols que desafiavam a lógica, ele hipnotizava adversários e espectadores, e, tal e qual um mestre-sala desfilando na avenida, esbanjava sua ginga protegendo a bola, sua porta-bandeira.

Machado de Assis – O Bruxo do Cosme Velho, um mago das palavras, por outro lado, conjurava suas magias através da ponta de sua pena, que não era mágica e muito menos encantada, ela apenas registrava no branco do papel os universos criados pelo seu amo e senhor, perpetuando seus personagens complexos e suas tramas que desvendavam a psique humana. Seus encantamentos literários, ainda agora, se apropriam daqueles que se aventuram pelas páginas de seus clássicos escritos.

O paralelo entre esses dois bruxos se encontra na maestria com que manipulavam seus respectivos elementos. Ronaldinho, com a bola, realizava o que para muitos seria impossível. Machado, com as palavras, explorava as profundezas da alma humana, revelando verdades ocultas com uma ironia fina e um realismo crítico.

Ambos eram artistas, cada um com seu pincel: Ronaldinho pintava o verde do campo com as cores vibrantes de sua técnica, enquanto Machado de Assis preenchia o branco do papel com as nuances sombrias e complexas de sua visão de mundo.

Ronaldinho será sempre lembrado como o bruxo que encantou o mundo com seus pés, um verdadeiro poeta do esporte que compôs epopeias em cada partida. Machado de Assis, eternizado como o bruxo que incendiou a literatura com sua mente, foi um romancista que esculpiu na memória cultural do Brasil as estátuas imortais de suas narrativas.

Em suma, Ronaldinho e Machado de Assis são dois gigantes que, com suas bruxarias, elevaram o futebol e a literatura a patamares místicos, onde a magia é a expressão mais pura da genialidade humana. Eles nos mostraram que, seja com uma bola ou com uma caneta, o verdadeiro bruxo é aquele que transforma o ordinário em extraordinário, deixando um legado que perdura muito além do seu tempo.