Opinião: Cabaça e o feiticeiro
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

O clássico Formiga e Vila, além da tradicional rivalidade, sempre foi repleto de folclore e misticismo. Não foram poucas as vezes em que as diretorias dos dois clubes apelaram para o sobrenatural.
Na década de 50, o Brasil foi invadido por técnicos de futebol vindos do Uruguai. O país vizinho tinha vencido o Brasil em pleno Maracanã e vários times começaram a trazer técnicos de lá. Para entrar na moda, o Formiga trouxe Luiz Comitante para dirigir sua equipe. Ele era um enérgico técnico uruguaio, que acabou gostando da cidade e ficando por aqui (ele era pai da competente professora Anísia Comitante Leão, diretora da Fatur).
Assim que assumiu o FEC, Luiz levou um susto. Toda vez que tinha uma partida difícil, os jogadores eram obrigados pela diretoria a tomar banho de água de arruda. Ele achava estranho, mas, para respeitar as crenças locais, nunca reclamava.
Certa vez, houve algo diferente. Iriam jogar Formiga e Vila e o FEC mandou vir para a cidade um tal de Zé Capeta, um preto velho famoso feiticeiro de Itapecerica, ele iria benzer o time.
Faltava meia hora para o início do jogo, que aconteceria no estádio Juca Pedro, e Zé Capeta, que garantia que já tinha amarrado Bizunta, o goleiro do Vila, mandou colocar um pouco de pólvora molhada na mão de cada um dos titulares.
Riscava um fósforo, chegava perto da pólvora molhada e ela apagava o fogo. Foi assim até chegar ao jogador Cabaça, o José Eufrásio Neto (pai da Jussana da Shop Vídeo). Foi chegar o fósforo perto e o fumação tomou conta do vestiário. Cabaça queimou a mão.
__Ô Zifio, do puder das profundeza eu tô vêno. O minino vai marcá dois gol... o minino vai marcá dois gol...
__Esse homem está é doido, comentou Luiz Comitante com a diretoria. O Cabaça é o goleiro, é o titular do meu time...
Mas não adiantou, os diretores do FEC fizeram valer a autoridade de Zé Capeta e Cabaça acabou sendo escalado na linha. Placar final: Formiga 3 x 2 Vila. Cabaça marcou dois gols.
Luiz Comitante nunca mais duvidou dos poderes dos feiticeiros da região. Posteriormente, ele foi ser técnico do Vila e para lá levou Cabaça para jogar como centroavante e, é claro, o Zé Capeta para garantir o sucesso.