Opinião: Cartão de Natal

Ana Pamplona (de Formiga)

Opinião: Cartão de Natal
Ana Pamplona é membro do Coletivo Poesia de Rua




Vi outro dia uma psicóloga perguntando se alguém gostaria de enviar alguns cartões de Natal sinceros, neste Natal. Não respondi de imediato. Pensei bem e então, acordei animada hoje. Gostaria sim. Até porque, a inspiração me falta para grandes aspirações. Sigo com esta.

Com vontade de mandar uns cartões de Natal. Aproveitar que Jesus está nascendo — e aquela doença de dezembro está acometendo o mundo, sabe qual né? —  e realizar sonhos, inclusive os meus. Decidi aproveitar este espaço sensacional que a vida me deu (obrigada, editor) e realizar este desejo. Vai sem destinatário, nem localização. Não é míssil teleguiado.

Vamos lá. Neste Natal, desejo que você (não necessariamente você, leitor):

—  Não se preocupe com o meu peso, nem com o meu corpo. Meu Nutricionista, minha Ginecologista, meu Instrutor da academia e o meu Ortopedista, se preocupam. Muito menos com o meu tipo de corpo, se a minha genética me ajuda, ou não. Tenha o seu corpo e seja feliz com ele. Feliz Natal!

—  Não se preocupe se estou à toa, pelo fato de estar meio aposentada. Só por isto, não significa que eu precise sair “quebrando galhos” por aí. Se eu te disser NÃO, faça você e seja feliz fazendo. Vai dar certo. Feliz Natal!

—  Não se preocupe se estou vestida “assim” ou “assado”. Se não estou bem vestida, ou adequada para a minha idade. Como sou eu quem paga meu vestuário, evito gastar dinheiro à toa e pagar caro por coisa que não vale. Então, invista seu dinheiro à vontade no que quiser sem se preocupar com o meu. Seja feliz. Feliz Natal!

—  Não se preocupe com as minhas rugas. Muito menos com as minhas pelancas, pois sou velha. Sou idosa. É natural. Se estou usando hidratantes, ou não; por que não estou fazendo “procedimentos” no meu rosto enrugado etc. Não se preocupe. Eu não faço nada disso, mas se você acha que compensa correr contra o tempo, corra. Seja feliz, mas por favor, não se importe se eu não te reconhecer na rua, ou fizer uma expressão de espanto ao te encontrar. É natural também, assim como o fato de você não me reconhecer por estar com tantas rugas. Inclusive, tenho uma crônica publicada aqui, que explica essa minha loucura (“O Inventário” - Jornal O Pergaminho, 21/05/2024 – ed. Nº 6358). Seja feliz com ou sem a sua harmonização facial! Feliz Natal!

— Não se preocupe se eu tenho, ou não tenho problemas familiares e se os administro bem ou mal. Se sou boa mãe ou não, boa esposa ou não, se faço o certo ou o errado, se deveria fazer isso ou aquilo com os meus desafios. Você, certamente, também tem os seus, não é? Já tem com o quê se preocupar. Então tire bom proveito deles, para o seu crescimento, assim como estou tentando fazer. Se eu precisar de você, pedirei ajuda e você poderá negar ou não e vice versa. Feliz Natal!

— Não se preocupe se sou, ou não, uma profissional de sucesso: rica, viajada, antenada, com milhares de seguidores etc. Não tenho que ter carro de luxo, nem viajar para o exterior. Estou bem assim, sou feliz com o pouco que conquistei com minha profissão. Espero que você também. Feliz Natal!

— Não se preocupe se estou fazendo caridade, ou não, se estou evoluindo, se estou doando cestas básicas ou mais coisas. Nem se preocupe se eu negar a ajudar ou o que for. Eu até tento, mas não sou santa ainda. Se você é, parabéns! Feliz Natal!

— Não se preocupe se eu sou de “direita”, de “centro”, ou de “esquerda”; se me engajo, ou não, em cultura “woke”, se tenho empatia ou não, e outras coisas assim. Tem como dar certo, acredite. Seja feliz. Feliz Natal!

— Não se preocupe pelo fato de que eu não uso bebida alcóolica, e nenhum tipo de droga. Sei que é estranho e para a normose geral dessa área, sou aberração, porém, eu detesto! Para MIM, não presta. Se você adora e é bom para você, ótimo! Seja feliz. Feliz Natal!

— Não se preocupe se eu gosto ou não gosto de Natal e dessa ansiedade das festas de fim de ano. Eu não gosto, mas tudo bem. Sigo vivendo, viva ou morta, e você também. Seja feliz. Feliz Natal!

Chega de cartões de Natal. 

Finalizo, pedindo ao bom Deus que me inspire a ser uma pessoa melhor a cada dia, a fim de não incomodar a ninguém, a ponto de também precisar receber cartões de Natal sinceros. Mas se for o caso, e tiver que receber, que Ele me ajude a compreender a insatisfação que causei no outro e que eu saiba fazer exercícios básicos de autoconhecimento, para mudanças diárias para o bem. E você também.

Feliz Natal... o que quer que seja o Natal para você! Feliz Vida!