Opinião: Coliseu
Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Não pretendo criar um incidente internacional de grandes proporções e tampouco difamar ninguém por posse indevida de patrimônio da humanidade. E nem poderia, já que a referida peça, uma rocha, se encontra comigo. Não conheço as circunstâncias que levaram um professor e amigo a tomar posse de tal peça, mas ele não se fez de rogado. O famoso coliseu, palco de embates sanguinários para divertir a plebe e elite romana, acabou sendo vitimado pela sanha colecionista deste amigo que, espero, não faça seguidores, senão o coliseu virará um monte de escombros. Talvez falte uma parte nele porque muitas pessoas andaram trazendo souvenires através dos séculos. Meu amigo trouxe um fragmento das bases da referida construção em viagem de lazer feita no velho mundo nos idos de 80. Sempre comentou sobre ela, até que um dia resolveu me presentear com a peça. Ao observa-la, constatei tratar-se de rocha vulcânica ácida possivelmente regurgitada pelo Vesúvio ou Etna ou Stromboli. Pelo visto, rochas assim foram amplamente utilizadas em construções na Roma antiga e deveriam ser particularmente úteis em construções mais altas, já que esta rocha possui baixa densidade e algumas chegam até a boiar na água devido às abundantes vesículas preenchidas por gases. Tal propriedade é imitada hoje na construção civil através de tijolos especiais de baixa densidade (sínter silicoso), comprometendo bem menos as fundações das construções e permitindo o soerguimento de andares onde não seria possível com os materiais convencionais. Pensei também na história daquele fragmento, desde sua gênese, coleta em seu local de origem até assentamento naquela lúgubre construção. As atrações do coliseu eram parte do circo que entretia principalmente a plebe romana. Tais atrações foram levadas às telonas em clássicos que tinham desde Ernest Bornigne a Russel Crowe como protagonistas. Algo bem semelhante ocorre no nosso país atualmente. Enquanto o povo se distrai com o pão e o circo, a corriola rouba tudo. Honestamente, não me traz orgulho possuir tal peça em seu sentido histórico, visto que não está certo. Orgulha-me sim, o fato de ter sido presenteada por um grande amigo, além do fato de sua paragênese ser vulcânica e Italiana. Quanto aos combates no coliseu, estão modernamente nas ruas, onde morrem milhares nas manobras da bandidagem cada vez mais crescente neste país. Talvez, no geral, o sofrimento fosse até menor naqueles tempos...