Opinião: Dançando na madrugada
Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Nada de músicas de mau gosto. Uma balada dos anos oitenta enche o espaço audível. É do Europe. Ou é do Journey? Ah, não importa. Sempre confundo os dois, porque são muito bons. Olho para você e percebo que já tirou os sapatos de salto alto. Descalça, esconde os pezinhos sob a mesa. Seu vestido azul cintila sutilmente sob as luzes do salão. Exausta, olha para mim e percebo que quer mais uma dança. Começa a colocar de novo aqueles belos sapatos, mas eu a impeço. Não há necessidade disso, afirmo. Eu me levanto e lhe estendo a mão, cerimoniosamente. Resoluta e sorridente, você a segura e se levanta. Ajusta seu vestido e, isenta de qualquer pecado mortal ou capital, dá uma corridinha até o centro do salão. Corridinha é maneira de falar, claro, mas seu passo rápido e elegante lembra uma corridinha. As pessoas ao redor vêem que você está descalça, hipnotizada pela música e pela paixão irrefreável que sente por mim. O jogo de luzes, o momento, as lembranças da noite anterior sob as estrelas imediatamente fazem seu efeito. Eu a abraço e, lentamente, começamos a dançar. Tenho um cuidado especial para não pisar em você, afinal, seus pezinhos são tão delicados! Seus sorrisos invadem aquele espaço e outras pessoas se levantam para dançar. Algumas moças e senhoras se aventuram a retirar sandálias e sapatos incômodos. O Europe continua sua performance e ninguém quer que aquela música termine. De repente, você pára e me olha com aquele jeito que só você sabe. Fico paralisado, capturado por sua beleza. Você se entrega em um beijo interminável como deve ser a música que toca. Depois que tudo acaba, parece que ficamos em êxtase por horas. Somos os últimos a sair. Quando a deixo em casa, sinto um aperto no coração. Vivo só em uma casa enorme. Sem precisar criar coragem, digo a você que se case comigo. Ainda sob o embalo da canção em sua cabeça, você chora. Seu sim vem em suas lágrimas emocionadas! Depois de algum tempo de caricias e sorrisos, vou embora feliz e assoviando. A música? Ah, sabe que nem sei o nome?