Opinião: Desistir? Nem pensar!
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)

Dizem que a vida é um presente. Meio suspeito, às vezes, com defeito de fabricação, sem direito a devolução e, pior, sem manual de instruções. Mas, ainda assim, um dom. E, convenhamos, um presente que ninguém em sã consciência deveria devolver antes da hora.
O que leva alguém a desistir? Ah, se eu soubesse! O sujeito pode ter dinheiro, sucesso e um armário cheio de roupas de grife – mas, se não tiver paz, tudo isso vale tanto quanto uma nota de três reais. E o outro, que não tem nada além de um radinho chiado e uma cadeira de balanço velha, mas ainda assim acha que a vida é boa? Pois é, há algo de muito estranho nessa equação. A conta simplesmente não fecha.
Agora, sejamos diretos: desistir da vida – ou sair do jogo antes do apito final – é de uma burrice colossal. E digo isso sem medo de errar. Primeiro, porque ninguém garante que do outro lado a coisa vai melhorar. Já pensou? Você se despede daqui esperando reencontrar a paz e, de repente, dá de cara com um burocrata celestial pedindo CPF, RG e certidão negativa de pecados. E se lá for pior? E se for tipo um guichê de repartição pública, mas eterno?
E tem mais: quem se vai, vai leve. Mas e quem fica? O estrago que a criatura faz! Já pensou na trabalheira? Tem que chamar a polícia, dar depoimento, lidar com a comoção da família, a indignação dos amigos e os vizinhos cochichando. Isso sem contar o padre que, se for dos antigos, ainda pode torcer o nariz e dizer que a alma vai para um lugar duvidoso. Olha a dor de cabeça!
Agora, cá entre nós: ninguém está satisfeito com o que tem. Quem tem muito quer mais, quem tem pouco quer pelo menos um tanto, e quem não tem nada se vira do jeito que dá. A insatisfação é universal, mas é justamente ela que nos empurra pra frente. Se todo mundo estivesse plenamente satisfeito, a humanidade ainda viveria em cavernas e usando folhas de parreira para cobrir as partes pudendas.
Então, diante desse mistério chamado existência, o melhor que podemos fazer é nos agarrar ao pouco que faz sentido. Pode ser um café bem passado, uma prosa boa, um time de futebol que nos mata de raiva, mas nos dá motivo para viver – qualquer coisa que nos lembre que estar aqui ainda vale a pena.
E digo mais: quando o Criador me chamar (porque só ele pode dar baixa no meu contrato), quero ter uma conversa séria com Ele. Perguntar, por exemplo, por que me fez desse jeito, com esses defeitos todos e sem direito a recall. Quero entender melhor essa coisa de livre-arbítrio, que, sinceramente, às vezes parece pegadinha.
Mas, até lá, fico por aqui mesmo. Porque, se tem uma coisa que aprendi, é que a vida é danada de imprevisível. Um dia parece um pesadelo, no outro pode acontecer algo bom. E afinal, quem é que abandona um filme antes do desfecho?