Opinião: E O TEMPO ROLA
Amilton Luiz Vale (de Formiga)

Vai entender! Iniciei 2025 disposto a aposentar papel e caneta. Coisa do ontem. Já que domino bem o teclado, nada de perder tempo com o tal de escrevinhar no modo tradicional. O computador é um bicho esperto. Não gostou ou errou, é só deletar e começar de novo.
Assim entendi. E o que aconteceu? Nada consegui escrever e foi fácil entender. A tecla é fria, sem coração, não tem alma, o contrário do sabor de uma caneta num papel em branco. Aqui, sim, a alma é despejada na ponta da caneta e a coisa acontece. Vivendo e aprendendo.
É isso aí. O tempo rola, passado vira museu e, incrível, o futuro some, já não o vislumbro. Todavia, as pessoas que construíram conosco o ontem, elas podem se distanciar no espaço, mas permanecem firmes na memória.
Foi justo o que aconteceu no apagar da luz de 24. Um cara me apareceu e acendeu minha memória dos idos de 60. E foi meu colega de antão, o Mendes, que me trouxe à memória a figura de dois padres. O segundo, Padre Gruen, sei que ainda vive. O primeiro, não sei. É o Padre Carrara,
Foi assim: a gente estreava o jornal DOIS PONTOS. Carrara me chama pra tomar satisfação. Primeiro me tirou a chance de dizer que nada tinha com aquilo. Era um artigo em que desanquei o bispo Dom Delfim e os padres da diocese. Inventaram uma missa que durou coisa de 3 horas. Achei aquele troço ridículo e botei o sangue pelas ventas. O Carrara viu como solução que eu escrevesse outro texto desdizendo tudo. Lógico que não fiz e me botaram no olho da rua. Sem mala nem cuia.
Aqui entra o Padre Gruen. Diz direto: meu filho. você escreveu o que pensa e é seu direito. Só que neste mundo capitalista, manda quem tem grana e o resto fica com o capim. Deixa o tempo correr. Se te conheço, um dia você será dono do apito. Aí, saiam de perto.
Acho que já estou com esse apito faz tempo.