Opinião: Envergar sem quebrar
Ana Pamplona (de Formiga)

Logo que a primavera despontou nasceu uma florzinha singela na campina. Seu amarelo selvagem destacava naquele verde estupendo, num misto de singeleza vibrante.
A brisa soprava de leve naquela manhã gloriosa trazendo perfumes instigantes e tocando suavemente todos os seres daquele lugar. Vibrando suas asas, um Beija-Flor parou no ar ao lado da florzinha, preparando o bico para a coleta do seu pólen sagrado.
De repente, o ar assobiou alto e a mesma brisa transformou-se em forte ventania, espantando o Beija-Flor. A florzinha se remexeu com a força do vento, que a cada instante aumentava sua potência. O estrondoso movimento do céu explodia nas criaturas daquele lugar, arrastando algumas, provocando nelas danças variadas, quebrando outras e fazendo rodopiar as mais leves.
A florzinha tentava se adaptar a cada rajada que a açoitava, mas seu instinto lhe ordenou envergar a haste delicada até o solo macio. E assim ela ficou por um bom tempo deitada, suportando aquela pressão, deixando-se levar por aquela força avassaladora, sem resistir...
Aguardou pacientemente o final da ventania, para só então começar, vagarosamente, a levantar-se, aprumando o caule flexível. Ainda um tanto cambaleante, ajustando-se dentro do equilíbrio vegetativo, procurou o sol. Serena e tranquila, aguardou o calor lhe envolver toda a estrutura, até as raízes. Sentiu a carícia do Beija-Flor em seu miolo e aguardou inteira, e em pé, a próxima ventania.